Essencial

Essencial é nome e aparentemente conceito deste pequeno restaurante no nº 176 da Rua da Rosa no Bairro Alto. De decoração minimalista, ou se quisermos manter o chavão, reduzida ao essencial – onde as madeiras claras e os tons neutros dão um toque nórdico.pão de massa mãe, manteiga e gordura de porco batida com alecrim

Neste teatro francês aberto aos comensais estão ao lado de André, e entre outros, Leonor Sobrinho (também conhecida por ser o seu braço direito e esquerdo) e Daniel Silva, que de apaixonado gastrónomo passou a chef de sala e sommelier.

Mas, passemos à mesa onde somos recebidos com pão bem quente, manteiga e uma menos provável gordura de porco batida com alecrim, tudo muito bem escoado com um Briords Vieilles Vignes Sur Lies 2020 de Muscadet, que demonstra que a carta de vinhos é tudo menos comercial ou aborrecida.

Ouriço do Mar, lima caviar e tártaro de carabineiro
Para começar a degustação um mergulho no mar, podia ser uma homenagem ao ouriço de Rafa Zafra no Estimar, mas a escolha de carabineiro, a acidez da lima caviar e o molho irrepreensível leva o prato para outro patamar e, claro, com um sotaque bem mais francês. Por mim podiam ter vindo 4 ou 5.

Foie gras, marmelo e brioche folhado
Falar em cozinha francesa não seria possível sem falar em foie gras, aqui servido num delicado e bem conseguido torchon mi cuit, que é como quem diz, que o dito fígado foi marinado e cozido levemente até atingir um ponto que o torna perfeito para barrar. Ao seu lado, marmelos bem trabalhados (não servem só para marmelada, como infelizmente é apanágio da nossa cozinha mais tradicional) e um brioche folhado que apesar do bom sabor, requer ainda mais apuro técnico.

Pâté en croûte de pato e laranja, foie gras, pistácio, cenoura e pera
Pâté en croûte é sinónimo do savoir vivre francês, raro de encontrar em Portugal, e mais, ainda bem feito! Tem sido ao longo dos últimos anos um dos grandes focos do trabalho de André Lança Cordeiro e um dos pratos que lhe deu fama durante a pandemia em regime de take away. Recheio exímio, repleto de sabor, frescura e doçura q.b., bem acompanhado pelo puré de cenoura, o confit de pera e os pickles. A gosto pessoal apenas as laterais da massa mereciam um pouco mais de cozedura para um melhor contraste entre massa e recheio.

No copo, estes dois ícones da cozinha fizeram-se acompanhar pelo Domaine de Bellivière Vieilles Eparses de Eric Nicolas no Loir. Um 100% Chenin cuja mineralidade e as notas cítricas conjugadas com algum mel fizeram uma boa harmonização com os pratos.

 Linguado, agrião, aipo, trufa, topinambour assado e molho de champagne e ovas de arenque
Continuamos numa cozinha clássica mas tão atual como qualquer outra, com a excepção de dar um pouco mais de trabalho do que por o peixe no sous vide à temperatura certa! Peixe no ponto, com todos os elementos a casarem lindamente na boca, com notas de frescura e terra a ligarem muito bem com a salinidade do molho. Houvesse caviar e podíamos estar em qualquer dos estrelados de Paris (o preço é que seria outro…).

Como não há cozinha francesa sem champagne bebeu-se Domaine Piollot Come das Tallants, um brut nature 100% pinot noir, que tendo servido bem o seu propósito seria ainda melhor no final com um prato de queijos, dado o seu aroma e robustez.

 Pithivier de Lombo, foie gras, puré de aipo caramelizado e alho negro, mille-feuille de batata crocante
Outro dos selos da cozinha de André Lança Cordeiro tem sido o seu trabalho com a massa folhada salgada, inspirado por mestres como Bruno Verjus, Yohan Lastre ou Karen Torosyan, muitas têm sido as suas propostas e recheios. Aqui, provou-se um complexo bife do lombo com farce, foie, legumes, couve, tudo cozinhado no ponto com máxima precisão – deve ser um alívio tremendo o momento de colocar a faca na massa e perceber que tudo bateu certo. A acompanhar o pithivier tudo ao mais alto nível, do jus ao puré e, claro, a abençoada trufa negra que o André aprecia tanto quanto eu.

A harmonizar esteve um menos irreverente Quinta do Monte d’oiro Reserva 2013, um syrah com apontamento de viognier, repleto de fruta madura mas sem ser chata com as notas de pimenta da darem-lhe alguma graça. Na boca denotava taninos polidos e a madeira muito bem integrada. Não era algo que esperava encontrar depois dos restantes vinhos, mas não comprometeu!

Soufllé de Avelã e trufa
Quem acompanha o trabalho do André nas redes sociais muito provavelmente chegou até ele pelas fotos pecaminosas de pastelaria francesa que vai ensaiando. Soufllé é sempre um exercício complexo ao qual a maioria dos pasteleiros foge, mas em boa hora o André não o fez – delicado, rico e saboroso e elevado ao último nível de epicurismo com a trufa fresca raspada no momento. O meu Inverno podia ser cheio disto…

Mille-feuille de baunilha, caramelo salgado
Considerado por todos que o provam como o melhor de Lisboa, desde que o vi online pela primeira vez que despertou em mim uma grande curiosidade, primeiro por ter efetivamente um aspecto de rara perfeição e segundo porque me lembrava um dos melhores mille-feuille que já tive oportunidade de provar, o do Relais Louis XII do chef Manuel Martinez à época com duas estrelas Michelin em Paris, qual o espanto quando um dia percebo numa entrevista que o André passou pela pastelaria do restaurante durante a sua passagem pela capital parisiense. Quanto à sobremesa não há muitos adjectivos a acrescentar, todos a deviam provar.

Para terminar uma já longa refeição e acompanhar em boa forma os doces, a escolha do Daniel Silva foi para um dos meus produtores favoritos de Jerez, um Cream Tradicion 20 anos da Bodegas Tradicion. Este vinho é o resultado da combinação de Pedro Ximénez com incrível Oloroso de Palomino Fino, que se torna num vinho muito particular do qual é difícil não gostar.

Sobre o serviço não há nada a dizer, é como estar em casa dos cozinheiros com um amigo que percebe de vinhos a servir-nos o copo. Mais uma vez o essencial, portanto!

Considerações Finais
De look nórdico e matriz francesa, o essencial é uma lufada de ar fresco – pode parecer estranho eu sei! Como é que um restaurante de cozinha clássica francesa pode ser algo refrescante e inovativo, perguntam vocês? Mas a resposta é simples, perguntem-se quantos de vocês, numa era de inovações, minimalismos e criações, muitas das vezes completamente desenquadradas, já tinham provado um pithivier na sua melhor expressão? um pâté en croûte? uma poulard en vessie, ou até mesmo um paris-brest?

Pegar em clássicos que moldaram a história da cozinha, reduzi-los ao foco do sabor e maneja-los com um rigor técnico invejável é algo difícil de encontrar e apenas acessível a quem está disposto a sofrer muitas horas na cozinha, isso e a quem se pode dar ao luxo (fica sempre a dúvida se será luxo ou ego controlado) de falhar, falhar outra vez, e repetir. Numa era moldada por influências estéticas e de empratamentos, André Lança Cordeiro deixou-se influenciar pela complexidade e a forma de fazer e isso é o que torna a sua cozinha tão refrescante. Se a cozinha também tem erros? tem! Mas a perseverança que se vive nesta cozinha indica-nos que são erros passageiros de quem vive mais como artesão do que como chef. Em resumo, tudo aqui se resume ao essencial – boa comida, e essa é a única opção do menu!

Essencial
Preços a partir de 50€ – (sem vinhos)
Rua da Rosa – 176, 1200-390 Lisboa
+351 211 573 713

English Version

Fotos: Flavors & Senses

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Ofício

Um corrupio na busca por um bom restaurante, próximo do hotel onde nos encontrávamos e aberto às 15h, acabou, felizmente, e, após uma recomendação da Inês Matos Andrade, no Ofício. Um tasco atípico como gostam de se caracterizar, mas que nada tem de tasco, nem na comida, nem no ambiente ou serviço.

Em 2021 o espaço foi completamente renovado, mantendo as abóbadas que tanto caracterizam o chiado – aliás, é uma boa homenagem à história que ali se escreveu, ou não estivessem instalados num antigo e histórico Convento. Ganhou novas formas, cores, grafismo e, claro, uma nova carta, agora assinada por Hugo Candeias.

Basta olharmos para as redes sociais do Ofício para percebemos que reflete bem uma nova geração gastronómica, dos cozinheiros, aos empresários e, claro, aos clientes que pretende atrair e tratar como fieis, como qualquer bom tasco português.

Hugo Candeias não aparece por acaso, liderava também o projecto de fine dining The Art Gate – entretanto encerrado –  vindo de uma movida Barcelona onde trabalhara ao lado de Albert Adrià nos seus restaurantes mexicanos. Uma experiência bem visível na construção do menu deste Ofício, as cores, as técnicas, os elementos… sempre com um lado cool, onde bons produtos são trabalhados com precisão mas sem que nada pretenda ser levado demasiado a sério, nada, excepto o sabor!

Uma mesa corrida para trazer a memória das mesas comuns das tascas

Numa reserva tardia que se pretendia rápida partilhamos uma série de petiscos sem entrar nos elementos mais complexos da carta. Começamos com boas ostras ao natural da Neptun Pearl de Setúbal e um espumante Blanc de Noirs da Ribeiro Santo.

Ostras Neptun Pearl

Mexilhões da Costa em escabeche
Ao primeiro petisco sabemos que estamos no sítio certo, mexilhões irrepreensíveis, bem limpos, tratados no ponto e com leve e delicado escabeche bem refrescado pela zeste de limão. Deliciosos com o ótimo pão de massa mãe da Isco. Faltava apenas umas chips da Bonilla à la vista para me transportar até próximo do nirvana de nuestros hermanos.

Tártaro de novilho, tutano e brioche tostado com azeite
Tinha o olho neste tártaro desde a sua primeira aparição nas redes sociais! Cortado à faca grosseiramente, a deixar transparecer os veios de gordura da carne, sem excesso de temperos, onde o pickle de sementes de mostarda ganha destaque, e claro, o tutano, que lhe traz untuosidade e uma profundidade de sabor difícil de igualar. Certamente um dos melhores exemplares da capital. Nota positiva também para o brioche tostado, embora o excesso de azeite verde mascarasse um pouco do seu sabor.

Moelas “Atípicas Portuguesas”
As típicas moelas estufadas que tanto nos caracterizam ganham aqui o toque refinado da alta cozinha. Ponto exemplar de cocção, e dois molhos distintos que se combinam para dar riqueza e sabor à miudeza. Bom contraste dado pela zeste de lima, que na medida certa refrescou e elevou todo o conjunto.

Aba estufada, pão brioche
Num tasco que se preze há que deixar os talheres de lado e sujar as mãos, pelo que é essa gula tasqueira que esta sandes tão bem representa – carne suculenta e a desfazer, molho e alface fresca e crocante. Rica, untuosa e com um je ne sais quoi de badalhoca refinada que é sempre o que se pretende. Tarde de queijo
Para finalizar, uma tarte de queijo basca, ou como aqui lhe chamam – tarte de queijo do chef Hugo Candeias – uma versão da clássica tarte imortalizada pelo La Viña e cuja moda e loucura se expandiu por toda a Espanha. Um desses ávidos consumidores de tarte de queijo sou eu próprio, e com uma boa dose de calorias ingeridas posso afirmar que rivaliza com as melhores do país vizinho. Em Madrid ou Barcelona o Ofício teria fila à porta só para poderem comprar esta tarte.

Foi a pensar nisso que o chef e o grupo Paradigma (detentor do restaurante) se preparam para abrir a Dona by Hugo Candeias, um espaço totalmente dedicado a este pedaço de céu.

A meio da tarde estávamos já sozinhos no espaço e com direito a serviço com explicação do chef incluída pelo que não há nada a apontar se não a fluidez e descontração de tempos e serviço (especialmente quando nos fazemos acompanhar de uma pequena bebé). Na carta de vinhos senti que havia margem de a casar melhor com o espaço, com propostas menos clássicas mas que não tivesse necessariamente de cair em exclusivo na trend natural, dito isto, hoje verifico que essas alterações aconteceram e que a carta é hoje bastante mais interessante.

Considerações Finais
Compreendo facilmente quem fez do Ofício uma segunda casa e que os seus clientes, foodies ou não, não parem de o recomendar. Espaço bem conseguido, boa música, pratos diferenciados no produto e na técnica com preços justos (uma raridade no Portugal cosmopolita). A dinâmica de tascos, petiscos e fazê-lo de forma moderna sem descuidar o conforto e respeitando o receituário é um equilíbrio difícil de se conseguir e pelo qual este Ofício está mais do que de parabéns.

Agora resta-nos voltar para provar pratos mais substanciais que há meses que ando de olho no arroz de forno e na raia com molho de ervas, isso e mais uma desculpa para trazer mais uma tarte de queijo inteira para o Porto.

Ofício
Preços a partir de 30€ – (sem vinhos)
Rua Nova da Trindade, 11k – 1200-301 Lisboa
+351 910 456 440

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Fotos: Flavors & Senses

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Memmo Príncipe Real

Hoje, permitam-me apresentar-vos o Memmo Príncipe Real, um refúgio de sonhos e experiências, onde a história se mistura com a modernidade, e o luxo dança a um ritmo aconchegante.

Nas alturas de Lisboa, o Memmo Príncipe Real repousa escondido, moderno e majestoso, contemplando a cidade com olhos enamorados. O seu terraço, um mirante de maravilhas, envolve-nos numa sensação de suspensão, onde, no topo da colina, testemunhamos um espetáculo deslumbrante sobre a baixa pombalina.

Desde a sua abertura, no final de 2016, este hotel tem encantado quem por lá passa com a sua atmosfera cosmopolita, enraizada na herança histórica, e uma fusão perfeita entre autenticidade e atemporalidade. O Memmo é um testemunho vivo de uma realeza passada, que se entrelaça com a energia vibrante de uma nova e agitada Lisboa.

Primeira Impressão
Depois de uma passagem inesperada e quase secreta, somos recebidos num lobby simples e elegante, longe do reboliço e do frenesim dos grandes hotéis. O sorriso caloroso da equipa que recebe enquanto um tentador chá de menta faz as honras do momento e nos ajuda a embalar uma pequena fera num momento de agitação!

Dum lado o Lounge que se funde com o restaurante, do outro, o terraço com a piscina e um horizonte único, que fazia antever os incríveis sunsets cujas memórias prevaleciam no tempo. E a vista panorâmica sobre Lisboa… provavelmente uma das melhores e mais idílicas vistas de toda a cidade.

O Memmo é um hotel relativamente pequeno, com uma atmosfera íntima, cosy, e sofisticada ao mesmo tempo.

Quartos
O Memmo é um abrigo de intimidade, um refúgio acolhedor e sofisticado ao mesmo tempo que dá ênfase ao título de Boutique Hotel. Os seus quartos, 41 no total, são um convite à tranquilidade. No nosso Superior City View Room, no quarto andar, o mais alto do hotel, fomos presenteados com uma vista panorâmica de toda a cidade. Os generosos 26m² foram adornados por uma decoração contemporânea, pontuada por detalhes luxuosos que marcavam a diferença.

Uma televisão Bang & Olufsen, uma Mini-Station Marshall, uma cama extraordinariamente confortável com lençóis de algodão egípcio, produtos de higiene Hermès, um serviço de cocktail de boas-vindas, onde tínhamos o prazer de preparar nosso próprio Porto Tónico, assim como diferentes chás e café à nossa disposição.

Mas um detalhe fascinante completava o quarto, um acessório singular – um chapéu no estilo da obra The Son of Man – que mudava de lugar sempre que o staff nos queria alegrar com uma mensagem, tornando a estadia e o nosso dia ainda mais especial.

Restaurantes
O hotel conta com o Café Príncipe Real, situado atrás da recepção, de frente para o terraço e a piscina. Um espaço elegante com o conforto necessário para acompanhar todas as refeições do dia e no final se transformar num fantástico rooftop sobre Lisboa. Este local de encontros, tanto para hóspedes como para visitantes, apresentava uma cozinha tradicional portuguesa, com toques mediterrâneos e internacionais, que pretendem levar-nos numa viagem sensorial inesquecível.

Serviços
Além dos serviços habituais de qualquer hotel de luxo, o Memmo Príncipe Real oferece um espaço especial para eventos. O Armazém M – Memmo Meeting Space, um antigo armazém recuperado, pode acomodar até 50 convidados, proporcionando uma vista privilegiada de Lisboa.

No entanto, o ex-libris do hotel talvez resida no seu terraço (já tão mencionado por aqui), um autêntico mirante onde os contrastes tão característicos de Lisboa se fundem aos nossos pés. Beber um cocktail, apreciar o por do sol e mergulhar numa atmosfera cosmopolita, embalada por boa música, é uma das melhores sensações que podemos vivenciar.

É nesse espaço que encontramos também a piscina, um convite aos momentos de descanso e deleite ainda que com um pouco menos de privacidade do que o desejado.

A equipa do hotel é simpática e atenciosa, trabalhando com maestria para que cada instante seja uma experiência memorável, sem deixar sua presença ser imposta, exatamente como se espera de um hotel de luxo.

O Memmo Príncipe Real é daqueles lugares aos quais ansiamos retornar, seja porque o luxo e o conforto se fundem com excelência, seja porque vivemos a contemporaneidade numa das regiões mais históricas de Lisboa.

Memmo Príncipe Real
Quartos a partir de 290€
Rua D. Pedro V, 56J – Lisboa

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Fotos: Flavors & Senses

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Ministry of Crab

Quem já visitou Singapura e tem o mínimo interesse por gastronomia já ouviu falar no seu famoso Chilli Crab, um prato sumptuoso de sabores picantes e doces que quando preparado com produtos de exceção nos leva facilmente ao Olimpo marisqueiro. A receita é originária da Malásia e tomou Singapura por assalto nos anos 60, graças à sua forte comunidade malaia, o que a maioria das pessoas não sabe é que a maioria desses magníficos caranguejos da lama chegam à cidade-estado a partir do Sri Lanka.

E se é verdade que no passado o caranguejo da lama era um elemento comum da culinária do país, a demanda de caranguejos para exportação, onde chegam a custar centenas de dólares, fez com que este delicioso crustáceo praticamente desaparecesse das casas e dos restaurantes cingaleses.

O placard onde conseguimos ver os tamanhos de caranguejos disponíveis no dia

Essa foi a premissa para a criação do Ministry of Crab quando o chef Dharshan Munidasa, durante as gravações de um dos seus programas de Tv, ganha total consciência que um dos produtos mais nobres do seu país era mais valorizado fora do que dentro de portas. A Dharshan juntaram-se duas lendas do críquete nacional e em 2011 nasce o “ministério”, instalado no histórico Dutch Hospital de Colombo, e com o intuito bem registado de servir o melhor que o país tem para oferecer, sejam os caranguejos, os camarões-gigantes-da-malásia ou as maravilhosas especiarias. Aqui não entram mariscos congelados (não existem sequer congeladores), o calibre mínimo é o 1/2kg para assegurar a continuidade da espécie; e o que os seus fornecedores tiverem de melhor é o que chega diariamente ao restaurante.


A decoração mantêm o respeito pela traça da histórica edificação holandesa, com a madeira e os tecidos laranja a ocuparem grande parte do restaurante, o destaque, obviamente, vai para os Caranguejos e Camarões expostos junto à cozinha aberta.

Um “pequeno” exemplar que acabou na mesa

Keep Calm and Crab On é o moto e foi isso que seguimos à mesa, começamos com bom pão e manteiga e uma refrescante resposta de Dharshan aos refrigerantes repletos de acúcar, Iced Tea Soda, feito com lima chá de pêssego e soda.

Ostras locais – soja envelhecida, molho picante e lima
Um bom início com ostras criadas no Sri Lanka, servidas bem geladas com um pouco de picante, uma ótima soja envelhecida, fruto das origens nipónicas do chef e lima para refrescar o conjunto.

Pâté de Caranguejo – tostas melba e xarope de acúcar de palma
Este momento foi um verdadeiro estalo, uma bomba de umami que devia servir de lição a todos os “recheios de sapateira” repletos de maionese que vamos encontrado pelo nosso país. O interior do caranguejo, lentamente cozinhado, reduzido e triturado com bom tempero. Delicioso sobre as tostas e o pão Kade, um pão de forma muito comum no Sri Lanka.

Camarão Gigante da Malásia – Molho Chili Garlic
Grande, com a cabeça repleta de sabor e corpo cozinhado no ponto certo, casou na perfeição com o molho de azeite, alho e chili. Picante q.b., era impossível não lamber os dedos a cada momento.

Caranguejo – molho de pimenta preta
Já tinha comido bons exemplares em Singapura, mas este caranguejo levou tudo a outra dimensão. Doce, Suculento, untuoso, especiado e rico, são alguns dos adjectivos que podemos por na mesa na hora de apreciar um destes exemplares. Podemos facilmente olhar para este caranguejo e o trabalho de Daqqarshan como olhamos para o Elkano e o seu Rodovalho. Único e imperdível a quem visita o país!

Crème Brûlée de Coco
Para terminar uma festa que já ia longa, não podia deixar de haver uma sobremesa feita com coco ou não fosse este utilizado para tudo no Sri Lanka, aqui o coco viajou até França para se combinar com delicado brûlée que se revelou delicado, cremoso e equilibrado na doçura. Um final feliz!

O serviço decorreu de forma descontraída, informal mas conhecedor do produto e das técnicas de sala.

Considerações Finais
O trabalho de Dharshan na preservação, recuperação e homenagem a um produto tão nobre do seu país é singular e revela bem a sua costela japonesa onde a perseverança e a resiliência são mais comuns entre os cozinheiros. O produto que chega à mesa é de rara beleza e qualidade e a cozinha sabe respeitá-lo com precisão nipónica. O Ministry of Crab é de facto um daqueles restaurantes que fazem valer o desvio e o destino, enquanto nos ficam na memória por muito e muito tempo. Se voltava? Voltarei com certeza e este caranguejo é um dos mais fortes motivos para regressar a este país encantador.

Ser um embaixador de uma cozinha e uma cultura é isto!

Ministry of Crab
Preços a partir de 80€ – (sem vinhos)
Old Dutch Hospital Complex, 04 Hospital St, Colombo – Sri Lanka
+94 77 0024823

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Photos: Flavors & Senses

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SRI LANKA – A cidade fortificada de Galle e a cidade fundada pelos Portugueses – Parte III


Depois de alguns dias na selva a viver em pleno e a tentar desesperadamente ver leopardos, foi tempo de rumar a Galle!

A cidade de Galle e as suas fortificações são a prova mais viva da ocupação holandesa. O Forte, construído em 1663, detém, ainda hoje, a imponência de outros tempos. As sólidas muralhas ao longo de Galle fazem-nos viajar no tempo. A parte mais antiga da cidade está rodeada pelas muralhas onde nos podemos perder e descobrir casas tipicamente holandesas, lojinhas, cafés e restaurantes e vários museus e igrejas.

Passeiem sem pressas, disfrutem deste pedaço de história e arquitetura!

Depois dum belíssimo dia em Galle fomos em direção aos únicos dias de descanso total no novo Cinnamon Bentota Beach. Um pequeno paraíso mesmo em cima da praia de Bentota, conhecida como uma das praias mais bonitas do país. Este hotel estava acabado de abrir, sendo que algumas das obras ainda estavam a decorrer. É um local lindo mas com aquelas falhas típicas de quem está a começar! Tivemos uma série de peripécias, mas que foram colmatadas com a simpatia genuína do staff.

Bentota Beach

Sabemos que após a pandemia hotel terá fechado e que começa agora a tentar encontrar o seu lugar. Para perceberem a autenticidade do staff, durante a quarentena recebíamos mensagens do gerente do hotel a perguntar como estávamos e como estavam as coisas no nosso país. Na realidade, a dada altura tivemos uma tarde inteira a conversar com o gerente durante a nossa estadia e acabamos por lhe contar que escrevíamos sobre hotéis e duma forma muito descontraída mas muito honesta dissemos-lhe todos os handicaps que estavam a cometer e o que fazer para melhorar!


O hotel é incrível e tem tudo para se tornar uma referência no país.

Depois duns dias de relaxamento foi tempo de terminar a nossa viagem na cidade mais importante do país – Colombo!

Na realidade, sacrificamos Colombo em prol dos outros locais durante esta viagem. Acabamos por passar apenas um dia na cidade com um objetivo muito específico: almoçar no Ministry of Crab – mas sobre isso o João fala-vos melhor aqui!

Aproveitamos apenas para caminhar pelas caóticas ruas e ter um pequeno vislumbre da loucura que é esta cidade.

Tivemos também a sorte de ter o Parveen connosco que acabou por nos fazer uma espécie de visita guiada de carro pelos locais mais importantes, só para que ficássemos com uma ideia mais geral.
Colombo é a capital comercial do país, a capital política é Sri Jayawardenapura- Kotte.

A red Mosque, também conhecida por Mesquita Jami ul-Alfar

Mas, se puderem não caiam no mesmo erro que nós e explorem a cidade! Esta cidade portuária tem muito a oferecer, e mostra muito a cultura local nos seu mercados e arquitetura cuja influência nos remonta a um verdadeiro cruzamento de povos.

O coração da antiga Colombo é o Forte, construído por nós! Chegamos ao Sri Lanka em 1505 e fizemos um tratado com o rei de Kotte para negociar canela (esta especiaria sempre foi de extrema importância, daí que muitas coisas recebem o nome de Cinnamon no país!).

Claro que depois de autorizados a ficar na cidade, foi apenas uma questão de tempo até expulsarmos os habitantes locais e conseguirmos dominar o reino. Até hoje, essa parte da cidade que iniciou pelas nossas mãos é conhecida como Forte.

Palácio Presidencial

Aqui fica o Palácio Presidencial e a maior parte dos hotéis da cidade. Esta região sofreu bastante durante a Guerra Civil, sendo por isso, ainda hoje, fortemente policiada.

Apesar de não termos visitado nada, segundo o que pude ler na altura sobre Colombo e de acordo com o que o Parveen nos foi mostrando, há locais de visita quase obrigatória:

Farol da Torre do Relógio – de 1987 tinha a intenção de ser o ponto mais alto da cidade.
Farol Old Galle Buch – de 1954 que conta com uma base naval.
Dutch Hospital – antigo hospital mas que atualmente está repleto de bares e restaurantes
Sri Kailawasanathar Swami Devasthanam – templo hindu lindíssimo.

Acabamos por passear bastante a pé pela área de Pettah, que fica fora do Forte, com as suas ruelas e mais ruelas de tudo o que é local e artesanal, o caos completo! Aqui ainda tentamos visitar a Mesquita Jami ul-Alfar, mas estava encerrada, pelo que pudemos apenas vislumbrar a sua fachada vermelha e branca.
Para quem quiser explorar os templos, tem também:
Templo Budista de Gangaramaya – um dos mais antigos da cidade.
Templo Seema Malaka – no lago Beira já do século XX, do renomado arquiteto Geoffrey Bawa.
Templo de Kelaniya Raja Maha Vihara – templo mais importante de Colombo.

Imperdível também o:
Memorial da Independência – construído em 1948 quando o Sri Lanka se tornou independente da Inglaterra.
Vihara Mahadevi Gardens – com a sua enorme estátua budista em frente ao prédio da Câmara e o Museu Nacional.
A cidade merece dois dias! Mas com uma viagem mais curta, opções tiveram que ser tomadas!

Agora só nos resta voltar ao Sri Lanka para fazer tudo o que ficou por fazer!
Quando deixamos o país, não sabíamos que esta seria a nossa última viagem durante um grande período de tempo, nem sabíamos que tínhamos que guardar muito bem esta viagem nas nossas mentes porque seria a última antes daquilo que veio a mudar o nosso mundo por mais tempo do que imaginaríamos.

Obrigada Sri Lanka por teres sido tão acolhedor a receber-nos.

Prometemos voltar!

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Leopard Safaris

O Sri Lanka estava a ser uma das viagens da nossa vida. Cultura, natureza, aventura eram o mote desta viagem e, por isso, uma estadia no meio da selva não podia faltar!
A escolha recaiu sobre o Leopard Safaris, com este nome, a estadia prometia!

O Leopard Safaris situa-se praticamente no Parque Nacional de Yala, e como queríamos muito visitar este parque, este seria o local ideal para ficar.
Foram duas noites hospedados literalmente no meio da selva e em comunhão total com a natureza. Não se trata dum hotel, mas sim duma espécie de acampamento de luxo no meio da natureza.

Obviamente o nome Leopard captou a minha atenção num instante, lembram-se da minha paixão no Kruger Park no &Beyond Ngala Se ainda não leram sobre essa viagem, aqui está o artigo.


O Leopard está dividido numa zona comum, um espaço de sala estar, bar e biblioteca, cuja decoração se envolve nas cores da natureza e nas texturas da selva, junto a esta zona temos uma agradável piscina e zona de relaxamento, e depois próximo, uma espécie de casa de árvore subtilmente envolvida no ambiente natural do verde que reina em todo o espaço.

Ao longo de todo o complexo estão distribuídos os quartos e pequenas casas de família. Falando em família, o staff só aconselha a estadia com crianças acima dos cinco anos de idade.


Ficamos numa tenda constituída por um quarto e uma casa de banho incrível. Tenda não será bem o nome para o que podem ver na fotografia, e a verdade é que já vi quartos de hotel bem menos interessantes! A entrada da tenda tinha um baloiço e umas cadeiras em madeira esculpidas que fizeram as honras dos meus fins de tarde de descanso.


Lá dentro esperava-nos todo o conforto que se pretende num bom quarto de hotel, a cama era ótima e os sons da natureza que se faziam ouvir pela noite fora tinham tanto de assustador como de entusiasmante.


No Leopard Safaris as atividades resumem-se sempre a algo relacionado com a natureza, seja pelos passeios pelo complexo, seja pelos Safaris ao Parque Nacional de Yala, seja pelos convívios em locais meticulosamente escolhidos pela equipa.

Tivemos oportunidade de fazer dois Safaris a Yala, infelizmente não vimos leopardos! A selva é muito diferente da savana, a vegetação é muito densa, e então apenas conseguimos ver os animais quando eles se deslocam pelos caminhos traçados pelo homem ao longo do parque.

Há inclusive imensas zonas do parque que não podem ser visitadas, o que também limita aquilo que se consegue ver. Mas vimos crocodilos! Não são tão bonitos, mas são bastante interessantes também! Tivemos também oportunidade ver uma série de diferentes espécies de macacos, diferentes aves, e elefantes.


As cores de Yala são únicas, o pôr do sol quando acontece mescla-se com a natureza duma forma tão única como eu nunca tinha visto. É assombroso de tão bonito!


Um dos pontos mais positivos desta estadia foi a gastronomia. A comida local que servem no Leopards Safaris foi das melhores que comemos durante a nossa viagem ao Sri Lanka. Cozinha local, produtos locais e pratos feitos por pessoas com alma!

O Leopard Safaris tem uma preocupação constante com o meio envolvente, por isso, toda a sua conduta é feita duma forma sustentável. o complexo está perfeitamente enquadrado na natureza, as cores e os materiais inserem-se e combinam-se de forma a pareceram também eles parte da selva. O uso de plástico foi banido quase na totalidade. E nenhuma arvore foi destruída aquando da construção do complexo.

Aliás, cada hóspede é convidado a plantar uma árvore! Por isso, já posso riscar da minha lista da vida: “plantar uma árvore”!


Foi uma experiência que apenas pecou pela falta de Leopardos, mas isso é algo que foge ao nosso alcance, até porque: Na selva a nossa espécie não manda absolutamente nada!

A ligação à natureza na forma mais pura e a simpatia constante de todo o staff fizeram desta estadia memorável!
Até breve Leopard Safaris!

Leopard Safaris Yala by KK Collection
Quartos a partir de 450€ por pessoa com tudo incluído
ld Katagamuwa Road Kochipatana, 01234 Yala – Sri Lanka

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Fotos: Flavors & Senses

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SRI LANKA – A religião, os chás e a selva – Parte II

Dalada Maligawa

Kandy – o coração religioso do Sri Lanka!
Kandy é conhecida como a capital das montanhas. A cidade destaca-se pela sua beleza e por ser o coração do país no que respeita à religião. É aqui que se localiza o Dalada Maligawa – conjunto arquitetónico formado por pavilhões cor de rosa com tetos vermelhos onde se encontra o Templo do Dente de Buda, o mais importante local de culto para os budistas.

Além deste, destacam-se outras construções religiosas, como o Templo de Kataragama, o Templo de Vishnu, o Templo de Pattini, o Templo de Natha Devala, assim como o Mosteiro de Asigiriya com uma interessante biblioteca e o Mosteiro de Malwata.

Mas foquemo-nos então no mais importante templo do país: The Temple of Sacred Tooth Buda Relic.
A Relíquia do Dente Sagrado é (supostamente) o dente canino direito de Gautama Buddha, o 28º Buda, cremado na Índia por volta do século V A.C., e trazido para o Sri Lanka.

O complexo do Templo é imponente mas está carregado de turistas, pois é o local mais visitado do país. É uma verdadeira azáfama de pessoas locais, de diferentes nacionalidades e também de monges! Este templo foi mandado construir em 1592 pelo rei Vimaladharmasooriya I, tendo já sido renovado, restaurado e ampliado.

Nas margens do Lago Kandy, este complexo é constituído pelo Palácio Real de Kandy, que atualmente funciona como museu, a sala de audiências da corte do Sri Lanka, onde ainda hoje são realizadas cerimónias oficiais, o Museu Nacional de Kandy, o Museu Budista, e uma zona octogonal que é atualmente uma biblioteca.

Logo na entrada percorre-se um corredor ladeado por jardins e estátuas, e logo daqui é possível admirar toda beleza do complexo.
A principal atracão – o Dente Sagrado – encontra-se minuciosamente dentro de sete objetos em forma de sinos utilizados para guardar artefactos importantes, que se encontram no santuário Handun Kunama. Este santuário, está num pátio rodeado pelos edifícios de alojamento dos monges residentes, e está adornado por uma cobertura dourada.

Supostamente esta relíquia foi retirada dos restos mortais de Buda, depois de este ter sido cremado por volta do século V AC. Séculos mais tarde foi levado para o Sri Lanka. O Dente Sagrado é venerado três vezes ao dia por vários monges – manhã, a meio do dia e ao anoitecer.

Vista a mais importante relíquia do país foi tempo de parar para almoçar. E para isso, nada melhor que comida local num mercado de locais e não de turistas!

Muito próximo ao complexo do templo há um pequeno mercado com várias especialidades do país, muito tradicional e muito autêntico. Foi o Parveen que nos recomendou, apesar de já termos lido sobre o assunto.

Óbvio, que mal chegam ao local pensam: “hummm, isto vai dar asneira, mas pronto, vamos lá experimentar!”.

Quem me conhece e lê os artigos já sabe que adoro experimentar de tudo e que fico sempre doente, mas continuo a fazer o mesmo, e na realidade, acho que vou continuar! Pois bem, eu o João partilhamos uma série de pratos e soube-nos pela vida. Gente simpática e genuína, preços baixíssimos, comida boa, e uma experiência efetivamente real!
Escusado será dizer que quatro horas mais tarde estava a vomitar a alma (mas garanto-vos que se pudesse voltar atrás, tornava a provar tudo!).

Depois do mercado fomos passar a tarde a aprender sobre Chá num dos maiores produtores do Sri Lanka – Blue Field Tea Factory que fica entre Kandy e Nuwara Eliya.

Blue Field Tea Factory

Este local é uma das fábricas de chá mais populares do país, controlando uma grande propriedade ao seu redor e produzindo chá de alta qualidade apreciado um pouco por todo o mundo. Na visita ao BlueField Tea Factory é possível passear ao longo de algumas das plantações e visitar a fábrica propriamente dita, acompanhando todo o processo de fabrico do chá. Terminando a visita na loja onde não só degustamos o chá como podemos adquiri-lo. Que obviamente foi o que fizemos!

Não percam uma visita a uma das plantações de chá e provem sempre que puderem! Digamos que o chá e as suas plantações estão para o Sri Lanka como o douro e o vinho está para Portugal!

Dia preenchido merecia um hotel histórico – escolhemos o Heritance Tea Factory com um autêntico cenário de fábrica antiga, que quase nos remeteu para a
mágica e excêntrica fábrica de chocolate de Willy Wonka! O cenário já era perfeito mas foi levado ao expoente máximo quando no dia a seguir acordamos
acima das nuvens (o hotel fica no alto de Nuwara Eliya) com o mais belo nascer do sol de sempre!

O nascer do sol mais emocionante que já vivi.

As trabalhadoras do campo de chá do Heritance Tea Factory

Ter o privilégio de numa só viagem assistir ao melhor nascer e pôr do sol de sempre é de louvar mesmo!

Há quatro dias no Sri Lanka e cada vez mais apaixonada por este país e pelo seu povo. Hoje foi dia de fazer aquela que é considerada a viagem de comboio mais cénica do mundo (que me perdoe quem disse isto, mas nunca fez a viagem de comboio pelo Douro, de certeza!). Apanhamos o comboio de Nuwara Eliaa até Ella acreditando que esta ia ser um dos highlights da nossa viagem. Mas, honestamente, não foi.

A estação de Nuwara Elyia

Adoro comboios, é provavelmente o meu meio de transporte favorito, por isso quando decidimos incluir esta viagem no nosso roteiro as minhas expectativas dispararam. O que é que eu já vos falei sobre expectativas?! Pois! Controlem-nas, sempre!!!

Os bilhetes devem ser comprados com alguma antecedência, têm a segunda e a primeira classe e todos os artigos na internet vos avisam para escolher a segunda porque a primeira tem ar condicionado e supostamente depois não deixam abrir as janelas ou ir para as portas para melhor verem a paisagem! Esqueçam!

A 1ª classe

Comprem na primeira! Que na realidade não é uma primeira classe, é igual À segunda! A única diferença é que têm um lugar para vocês onde podem pousar as vossas coisas e ir sentados quando quiserem ir sentados! Na segunda classe é basicamente o caos!

Podem abrir as janelas sim (até porque, o ar condicionado é uma ventoinha que funciona mal pendurada no teto!), podem levantar-se ir para a porta ver a paisagem, podem tudo, na realidade! A viagem num comboio normal demoraria uns 45min, neste, como vamos a 10km/h demora umas 3,5h! Quando digo 10km/h não estou a exagerar, nalgumas zonas dá para saírem com ele em andamento, fotografar locais e tornar a entrar!

Quanto à paisagem, é como vos digo, prefiro muito mais o meu Douro! Não considero que tenhamos tido oportunidade de vislumbrar as melhores paisagens do Sri Lanka. Esperava bem mais. Pensei que fossemos comtemplar aquela imagem incrível da Ponte de Nove Arcos, mas não. Talvez erro nosso na escolha do trajeto, deveríamos ter feito a viagem de Kandy a Ella, e não de Nuwara Elyia a Ella. Mas honestamente 3h30min já me chegaram, a mais longa são cerca de 7h!

Cascata em Ella

Bem, terminada esta aventura foi tempo de rumar à selva! Sim , verdadeiramente à selva! No incrível Leopard´s Safari!
Quem lê os meus artigos sabe a minha paixão por safaris e principalmente por Leopardos, se não sabem corram a ler este artigo (&beyond Ngala).

Queríamos visitar o Yala National Park e para isso não havia melhor local do que o Leopard´s Safari, muito próximo do parque. Chegamos durante a tarde e senti-me de tal forma em casa que não quis fazer mais nada nesse dia além de explorar este pequeno retiro de luxo mesmo no meio da selva!


Mas para isso, melhor lerem todo o artigo deste local mágico (aqui).

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SRI LANKA – A História Milenar – Parte I

Agora que já sabem o que precisam para viajar para o Sri Lanka vamos lá viajar por este país incrível!

O Sri Lanka é um país com uma diversidade cultural infinita.
As diferentes etnias e a imensa história fazem do Sri Lanka um local muito especial.
É o berço de uma das linhas mais antigas e puras do Budismo – o que o torna ainda mais especial para mim, uma vez que simpatizo tanto com esta religião.

Colombo, as antigas cidades de Anuradhapura, Polonnaruwa e Sigiriya – a era dourada do país – Kandy com as suas plantações de chá, o Parque Nacional de Yala, a cidade Fortificada de Galle e as praias são razões mais do que suficientes para nos apaixonarmos por este país!

Havia locais que eu tinha colocado na lista de “a não perder” – as cidades antigas de Anuradhapura, Polonnaruwa e Sigiriya, a região de Kandy, e um safari em Yala.

Um passeio pelas históricas ruínas de Polonnaruwa

Dividimos a nossa viagem por regiões.
Voamos para Colombo (que fica no Oeste) mas de lá fomos diretos para Dambulla que fica na região central próximo de Sigiriya – viagem essa que já fizemos com o Parveen que nos tinha ido buscar ao aeroporto de Colombo, e que durou cerca de 4 horas.

Comecemos pelos primeiros três dias que foram os mais atribulados a descobrir as cidades mais antigas e históricas do país!

Templo Dourado de Dambulla
Património Mundial desde 1991, este local constituído por cinco grutas com templos budistas obriga-nos a subir imensos degraus (achava eu até subir Sigiriya ou Pirudangala!) em rocha para contemplar a sua beleza.
A imagem mais imponente é o Buda deitado de 15 metros. As grutas encontram-se imponentemente decoradas com ouro e frescos coloridos com imagens religiosas.


Este templo teve a sua história marcada pelo refúgio do Rei Valagam aquando da sua expulsão de Anuradhapura. Após o seu regresso ao trono mandou transformar o local num templo sagrado de culto.

Os principais habitantes do templo

A vista deslumbrante do Templo Dourado foi um pequeno presságio do que viria a ser o resto da viagem

Daqui, e bastante exaustos da viagem, decidimos seguir para o hotel onde ficaríamos nas primeiras noites, o Jetwing Lake Dambulla Sri Lanka.

O por do sol na piscina do Jetwing

No dia a seguir começamos bem cedo pela aventura de fazer as duas cidades antigas – Sigiriya e Pollonnaruwa.

Começar o dia a subir cerca de 700 degraus é só doentio, certo? Mas foi precisamente o que nós fizemos!

Lion´s Rock em Sigiriya
As ruínas do Palácio de Sigiriya, no topo da Lion´s Rock, são a maior atração do país. Caminhar por jardins que já foram um imenso complexo de distribuição de água e uma autêntica cidade e um palácio que só é acessível a quem se dispuser a subir mais de 700 degraus.
Este reino surgiu no século V, no topo de uma rocha de 375 metros de altura.

O rei no seu castelo

O terrível Kassyapa matou o seu pai para tomar o poder. Governou o reino por 18 anos, mas obviamente, teve que se refugiar num lugar de difícil acesso para não ser capturado e morto. E então decidiu fazer um palácio quase a tocar o céu! Este histórico e incrível complexo tem a forma de um leão, daí o nome.
Logo na entrada podemos ver as patas gigantescas do leão.


Mas depois do desafio de chegar ao topo da rocha por umas escadas íngremes e rudimentares ficamos em modo perplexo tamanha é a beleza.
Na realidade, o Sri Lanka é de todos os países que já visitei o que tem as vistas mais impressionantes.
Como é possível há 2500 anos atrás terem a capacidade de construir um complexo no topo duma montanha com aquela grandeza e imponência?


Mesmo antes de chegarmos lá em cima temos planície a perder de vista, adornada com estátuas entre a vegetação.
No topo da rocha restam apenas os vestígios daquilo que um dia foi um grandioso e insano complexo com jardins, fontes, piscinas reais, palácio e templos. Obviamente este complexo é Património Mundial da Unesco.

Daqui seguimos para Pollonnaruwa.

Pollonaruva é um conjunto arquitectónico inundado por palácios, pontes, salas de reuniões, banhos reais, mosteiros, diversos templos e numerosas estátuas de Buda.
É Património Mundial da UNESCO desde 1982.

Dica: levem havaianas, alpercatas ou sandálias rasas fáceis de tirar. Sempre que entrarem em solo sagrado têm que se descalçar.
Levem também ombros e pernas tapadas. Como aquando da viagem a Bali tínhamos comprado uns Sarongs lindíssimos, pusemo-los na mochila e usamo-los sempre.

Este complexo é enorme, constituído essencialmente por ruinas, mas que se percebe na perfeição uma cidade imponente e altamente organizada de outros tempos.

O ideal para visitar Pollonnaruwa é de bicicleta ou como nós fizemos, com motorista. Isto porquê? Porque o complexo é gigantesco e até mesmo o local de venda de bilhetes é extremamente longe do complexo em si!

Visitamos o Palácio do Rei Nishshanka Malla que fica junto ao Lago Bendiwewa, rodeado de jardins exuberantes, mas fora do complexo arqueológico de Polonnaruwa.

Palácio do Rei Nishshanka Malla
Visitamos também o Palácio Real, no extremo sul das ruínas e os seus incríveis frisos esculpidos na pedra com magníficos relevos de elefantes.
O que mais gostei, e não me perguntem porquê, foi o Quadrilátero Sagrado de Polonnaruwa. Trata-se de um grupo compacto de ruínas localizado numa pequena elevação de terreno, rodeado por um muro.

Quadrilátero Sagrado de Polonnaruwa

Este complexo é enorme e demora umas boas duas horas a visitar.

Apesar da loucura do dia, e do cansaço, e como achamos piada ao facto de começar o dia a subir 700 degraus, decidimos terminá-lo da mesma forma e fomos para aquele que foi das nossas maiores surpresas e desafios nesta viagem.
A montanha de Pidurangala!

Pidurangala

Não faz parte dos roteiros comuns do Sri Lanka, mas além de já termos lido sobre as vistas de cortar a respiração sobre Sigiriya, o Parveen disse-nos que era imperdível para o melhor por do sol das nossas vidas.

A parte fácil da subida

Não sendo ponto de paragem habitual, há pouquíssimos turistas a visitar, o que é ótimo, pois torna-se uma experiência única.

À entrada paga-se um preço simbólico, pois na realidade, além desta formação rochosa, o local alberga um templo com uma estátua de Buda reclinado. O foco não era de todo o templo mas o topo da montanha e aquele que seria o melhor pôr do sol da minha vida.

 

O Parveen fez connosco todo o caminho, o que nos deu alguma segurança, uma vez que eu não sabia que, na realidade, o trajeto era bem complicadinho!
A primeira parte é constituída por umas escadas bem irregulares, rochosas e nitidamente feitas pelo uso secular. Já não são escadas fáceis mas são facilmente escaláveis!

Não podíamos facilitar pois a hora do pôr do sol aproximava-se e a montanha ainda demora a ser percorrida, principalmente se vierem outras pessoas a descer (só existe um caminho e não é assim tão espaçoso).

Estava a ser uma sensação incrível, mergulhar na densa floresta sem saber muito bem o que nos esperava. É que na realidade aquilo não tem propriamente um roteiro. Como vos disse, não é um local que faça parte dos habituais espaços a visitar, razão pela qual nada está organizado nesse sentido. É feito sob a responsabilidade de cada um. Acredito que o facto de fazer 36 anos nesse dia enalteceu a experiência!Ao longo do caminho encontramos uma pequena cave onde repousava outro Buda reclinado, em tijolo.

Já na parte final da subida me apercebo que não sabia ao que ia, definitivamente! Pois, uma coisa é subir degraus sinuosos e difíceis, outra bem diferente é escalar rochas graníticas!!!
Até sou uma pessoa que faz ginásio com uma certa regularidade, mas aquilo era bem exagerado, além dum tanto ao quanto perigoso! O facto do Parveen ir connosco fez um grande diferença.

Dica: usem sapatilhas e roupa confortável neste dia! Vão precisar!

 A vista sobre Sigiriya

Mas, na realidade, viam-se crianças a acompanhar os pais, por isso, se elas conseguiam eu também conseguia! Assumo que na última rocha a coisa não foi fácil, mas tive a ajuda doutros turistas que já se encontravam no topo e me puxaram.

Mas… mal percebi a dimensão do que se via do cimo de Pidurangala, todo aquele esforço se desvaneceu num ápice. Dum lado Sigiriya, e a toda a volta apenas verde, muito verde, muita floresta, muita natureza. O céu estava perfeito, o sol estava quase a pôr-se, e aquele momento foi, indubitavelmente, um dos mais perfeitos da minha vida.

Um momento único!

Esse dia terminou duma forma exímia! Era tempo de descansar porque no dia seguinte o tempo seria igualmente preenchido!
Ficamos apenas 10 dias no Sri Lanka, se podíamos ter ficado muito mais? Podíamos, mas como já vos disse, temos uma clinica para gerir, e isso limita-nos um pouco o tempo.

Mas 10 dias foram imensamente aproveitados. Faz-me sempre alguma confusão quando ouço algumas pessoas a dizer:
”ah, só por 8 dias nem vale a pena ir para tão longe, essas viagens são de três semanas no mínimo. Só por isso é que nunca fui para esse tipo de países!”
Convençam-se duma coisa: o tempo é o mínimo dos vossos problemas! Se tenho possibilidade de viajar e ser feliz por 10 dias, não vou fazê-lo porque deveria ir três semanas?
Quem usa isto como argumento não gosta de viajar nem nunca vai fazê-lo, mas adora emitir a sua opinião sobre o assunto!

Com a região antiga e histórica do país vista foi tempo de aligeirar a viagem e rumar a Kandy!

Versão Portuguesa

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Sri Lanka – tudo o que precisam de saber antes de viajar

Sigiriya

Este artigo terá um lugar bem especial no meu mundo, neste novo mundo pós Covid-19. A última aventura, ou melhor, a última aventura em formato de viagem!

O Sri Lanka sempre foi um daqueles destinos de sonho. Fazia parte do meus planos de viagens à Ásia desde que me recordo (felizmente, desse plano já só falta: Camboja, Vietname, Laos, Myanmar, Japão, Filipinas… ok, vamos parar!).

Começamos a preparar esta viagem quase no final de 2019, numa altura em que estávamos a viajar por Paris e por Istambul (tenho esta mania doentia de preparar os próximos destinos ainda a fazer a viagem anterior!). E ponderávamos Março para a fazer, mas nessa altura já a clínica está com uma agenda incontrolável (sim, a nossa vida não é só viajar, temos uma clínica médica que nos dá tanto de amor quanto de trabalho árduo). Por isso, e ainda bem, decidimos viajar no final de Janeiro na altura do meu aniversário.

Em Março já o caos estava instalado no mundo inteiro… e o resto da história já todos sabem!

Mas, foquemo-nos no Sri Lanka e esqueçamos agora esta Pandemia que mudou as nossas vidas, estamos em 2022 e o mundo começa agora a dar sinais de um modesto regresso à normalidade – seria melhor se alguém não tivesse decidido iniciar agora uma guerra…


A vista deslumbrante de Nuwara-Eliya

Breve História

A história do Sri Lanka conta com pelo menos 3000 anos, com evidências de assentamentos pré-históricos que remontam a 125 mil anos. A excelente localização geográfica e os seus portos fizeram do Sri Lanka um ponto estratégico importantíssimo desde a antiga Rota da Seda até à Segunda Guerra Mundial. Dizem os registos que no século VI a.C., o povo Cingalês (ou sinhala) migrou para a ilha vindos da índia. Antes disto a ilha teria sido ocupada por Malaios.

Vijaya terá sido o primeiro rei cingalês, em 543 a.C. e o primeiro reino do Sri Lanka terá tido a sua capital em Anuradhapura. Já no século III a.C., os cingaleses converteram-se ao Budismo e a ilha passou a ser um centro de estudos e de trabalho missionário budista. Esta conversão religiosa terá sido a principal causa de separação entre o Sri Lanka e a cultura do sul da Índia.

Anuradhapura permaneceu como capital do reino cingalês até o século VIII, quando foi substituída por Polonnaruwa.

Algumas das ruínas de Polonnaruwa

Do sul da Índia chegaram à ilha os Tâmeis dando início a intensos conflitos com o povo cingalês a partir do século III. Durante boa parte do primeiro milénio, a ilha foi controlada por vários príncipes de origem Tâmil. Mas no século XII um dos mais importantes reis cingaleses, o Prakrama Bahu, derrotou os tâmeis, unificando a ilha sob o seu domínio.

No século XV, a ilha foi atacada pela China e, durante trinta anos, os reis locais prestaram tributo ao imperador chinês.

Também os portugueses, como sempre, tiveram um papel preponderante na criação e desenvolvimento deste país, e muita da nossa história ainda se sente nalgumas zonas do Sri Lanka bem como na sua língua.

Fomos os primeiros europeus a lá chegar, em 1505 e fundamos a cidade de Colombo em 1517, levamos connosco o Cristianismo mas a partir de 1600 acabamos por ser derrotados pelos holandeses que se uniram ao povo maioritariamente Budista que nos odiava! Entretanto quase já em 1800 os britânicos ocuparam o Sri Lanka e introduziram o cultivo do chá, do café e da borracha. Esta ocupação inglesa manteve-se  até 1948, quando o Sri Lanka se tornou independente,  deixando a sua marca no dia a dia do povo bem como na sua cultura.

Seguiu-se novamente uma Guerra Civil de 1983 a 2009 entre guerrilheiros Tâmil e o exército Cingalês.

Atualmente o país atravessa um bom período de desenvolvimento e paz (pelo menos até ser assolado com esta Pandemia).

As agitadas ruas de Kandy

Como chegar até ao Sri Lanka, o que é necessário levar na mala , e como se deslocar lá:

Para viajantes portugueses saibam que não há nenhuma vacina obrigatória, óbvio que já terem tomado a da Hepatite A, B, Raiva, Febre Tifóide e Encefalite Japonesa pode ser interessante. Nós já viajamos um pouco pela Ásia por isso já tínhamos a maioria. Para viajantes de locais com risco de transmissão de Febre Amarela é obrigatório a toma desta vacina.

Quanto à Malária, o risco de contrair é extremamente baixo.

Mas, aconselho a fazerem a Consulta do Viajante cerca de um mês e meio antes da viagem (procurem a Dra. Sandra Xará na Uffizi Clinic).

Os Habitantes mais famosos de Sigiriya

Não esquecer em caso algum:

  • Repelente – para quem como nós fez Safaris e andou pelas plantações de chá, é de extrema importância o uso dele.
  • Protetor Solar – usem e abusem mesmo que não andem pela praia, até porque o clima é bastante diferente do de Portugal!

Por falar em clima,  o Sri Lanka tem dois tipos de monções, uma que atinge a região norte e o leste do país vindas do nordeste entre Outubro e Janeiro e outra vinda do sudoeste que atinge o país entre Maio e Agosto ao longo da costa sul e oeste.

Por isso, a melhor altura para viajar é de meio de Janeiro a meio de Abril.

Roupa/calçado:
Confortável e fresca. Não levem demasiada roupa, organizem-se por dias e repitam algumas peças conjugadas de forma diferente, é muito cansativo andarem com uma mala cheia de um lado para o outro – sim, porque se vão ao Sri Lanka não se fiquem só por uma zona.

Relativamente aos locais de visita no Sri Lanka, nomeadamente os templos, requerem uma roupa que respeite os costumes e tradições, ou seja, para poderem entrar nos locais religiosos têm que usar calças ou saias compridas, pelo menos que tapem os joelhos, e no caso dos homens calças ou calções também compridos. No que diz respeito às camisolas, estas devem tapar os ombros, e a barriga, quer nas mulheres quer nos homens.

Quanto ao calçado, o ideal é também ser confortável, ténis continuam a ser a opção mais adequada. Nos templos têm que se descalçar antes de entrar, por isso, nesses dias, usem algo mais prático, umas sandálias, havaianas, ou alpercatas, por exemplo.

Fármacos:
Protetores gástricos e fármacos para a diarreia. A gastronomia é bastante condimentada e picante, o que pode alterar toda a vossa função gastrointestinal.
Anti-histaminicos, anti-inflamatórios ou até um antibiótico de largo espectro (sim, sou um bocado paranóica, é o que faz ser profissional de saúde!).

E por fim, Guronsan e Chollagut – para curar as ressacas!

Primeiros socorros:
Não custa nada sermos prevenidos!
Levem curitas, para as bolhas que vão surgir por andarem muito, levem soro fisiológico, umas compressas e adesivo, assim, qualquer ferida pequena que façam, podem lavá-la e aplicar um pequeno penso.

Voos:

De Portugal voamos com a Qatar Airlines fazendo escala em Madrid e em Doha, chegando depois a Colombo, o voo levou cerca de 11 horas no total. Para viajantes do Brasil, a Emirates é uma das melhores opções, fazendo escala no Dubai. Mas de diferentes pontos do globo voam as mais variadas companhias para Colombo.

Não se esqueçam – passaporte com validade de 6 meses.

O Visto podem pedi-lo online no site www.eta.gov.lk , na altura em que fomos o país estava a oferecer gratuitamente o visto no sentido de promover o turismo.

Uma das celebridades que encontramos durante um safari

Transportes no Sri Lanka:

Façam um favor a vós próprios e contratem um motorista!

O Sri Lanka não é grande, mas tudo fica imensamente longe quando as estradas são uma lástima! Um trajeto que facilmente demoraria 30min passa a demorar 3 horas ou mais!

Contratamos o Mr. Parveen Mendis (sim, tem origem no nome português Mendes) que foi incrível. Tem uma espécie de empresa com vários motoristas/guias e uma pequena frota de carros –  www.tourguideinsrilanka.com . O Parveen é também guia turístico e ajudou-nos a organizar e estruturar toda a nossa viagem. Andou connosco os 10 dias e ficava a dormir nos alojamentos próprios para motoristas próximo dos hotéis onde ficávamos hospedados. Ajudou-nos a fazer e vivenciar em viagem o que fazia sentido e desmistificou o que não fazia. Fez connosco a maioria dos trajetos mais aventureiros para que nós fossemos com mais segurança e para que pudéssemos perceber os detalhes que só os locais conhecem.

Na altura pagamos um total de 500€ pelos 10 dias de viagem, o que fazendo bem as contas foi super acessível, tendo em conta que incluía o carro, a gasolina gasta, e todo o acompanhamento. Andou connosco desde o momento em que aterramos em Colombo até ao momento em que nos despedimos do Sri Lanka.

Galle

Mas vamos agora ao que interessa: o que visitar no Sri Lanka?

Fomos apenas 10 dias, muitos mais precisaríamos para ver tudo o que queríamos. Os nosso amigos Eshan e Anika que conhecemos em 2018 na África do Sul são do Sri Lanka e já nos disseram: “têm que voltar, ficou tanto por ver e fazer!”

Voltaremos certamente! Mas agora leiam o nosso próximo artigo e vejam de que forma organizamos os nossos 10 dias pelo Sri Lanka.

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Osteria Gucci*

Cor e séculos de história nas paredes da Osteria Gucci*

Imagine um sítio onde gastrónomos, historiadores e fashionistas possam coincidir na mesma sala… esse sítio é a Osteria Gucci! O restaurante que nasce da junção da marca fiorentina ao nome mais alta da gastronomia italiana, Massimo Bottura, está instalado em plena praça della Signoria, no Gucci Gardens.
O suposto jardim não é mais do que o museu da marca e um mergulho no génio de Alessandro Michele, o director criativo da empresa, onde não faltam plantas, animais, padrões, muito charme e muita loucura ao qual se juntou também um restaurante de assinatura que vive e respira do mesmo rasgo criativo.

Sobre a decoração não há muito que se possa dizer, tudo está colocado na medida certa, no sítio e na dose certa. De destacar os brasões esculpidos que fazem parte da história da cidade e a sala privada onde tivemos o privilégio de jantar. Como seria de esperar nenhum detalhe é deixado ao acaso, dos menus às loiças criadas especificamente para o restaurante e cuja vontade é trazer todo o serviço para casa.

Ao leme do restaurante está Karime Lopez, uma mexicana com predicados que nos garantem, que aqui não estaremos num restaurante sem chef nem alma. A sua carreira levou-a pelo mundo, de trabalhar ao lado de Santi Santamaria ao Noma, passando por Mugaritz, Ryugin, Pujol e claro a Osteria Francesca, e é um pouco disso que vamos encontrar no seu menu de influência toscana, onde não falta espaço para algumas das suas criações .

gougères

Já instalados começamos por um uns ótimos gougeres para abrir o apetite, em que as notas umami do pó de tomate elevaram a pequena delicadeza.

Salumi – Culatello, spalla cotta, mortadella, stroighino
Uma daquelas seleções de enchidos e fumados às quais é impossível resistir. Produto criteriosamente selecionado, bem cortado, à temperatura ambiente e acompanhado por uma ótima escolha de pães, com destaque para os longos e viciantes grissinos. Um início sem criatividade como se espera, mas com muito sabor e a demonstrar muito bem o que é a osteria.

Pollockricotta, acelga, tomate e pimento
A técnica que imortalizou Pollock e as combinações de cores e disposições que sempre surpreenderam nos pratos de Bottura, aqui num raviolo de ricotta e acelga coberto com molhos dos restantes vegetais e um pouco de béchamel para ligar todos os elementos. Belíssimo e saboroso.

Tortellini em creme de parmigiano reggiano
Um clássico de assinatura do chef e por ventura o mais tradicional dos pratos do menu. Massa perfeita, bom recheio e molho rico, suptuoso mas simultaneamente delicado. Daqueles pratos que podemos comer todos os dias sem nos cansar-mos.

Vieni in Sicilia con Me – risotto, tomate e gamba vermelha
Provavelmente o melhor e mais bem executado prato da noite a par com os tortellinis. Risotto irrepreensível, cremoso e al dente sem excessos, gamba de boa qualidade e crua como mandam as regras. Tudo aprimorado com as notas de tomate e ervas colocadas em pó.

Dá para servirem todos os risottos por esse mundo fora assim?

Emilia Burger – chianina, cotechino, parmigiano reggiano, salsa verde e maionese balsâmica
Burger feito da combinação de chianina com a salsicha cotechino, acompanhado por diferentes molhos e pão brioche. Bom e delicado burger, mas ainda não nos traz a felicidade de um burger simples como o do Curb (quem nos segue no instagram sabe ao que me refiro).

Purple rain
As sobremesas trazem à mesa elegância máxima, ou não estivéssemos nós numa casa de alta costura. Mousse e sorvete de alfazema combinadas com diferentes texturas de coco. Fresco, leve, delicado e com sabor como se pretende de uma boa sobremesa.

Charley’s Sandwich
Uma sobremesa criada para o Charley, filho de Massimo, que muda consoante as épocas. Aqui numa típica ice cream sandwich, elevado ao estrelato. Avelã e chocolate em diferentes texturas, um apontamento de ouro e voilá. Dava para comer em quantidade…

Instalados com um pequeno grupo de amigos na sala privada o serviço decorreu de forma exemplar, sempre presentes quando necessário e com o profissionalismo que se espera da ligação de “duas marcas” de luxo.

Considerações Finais
Ao contrário de muitos restaurantes com assinatura de chefs estrelados que se limitam a dar rosto e assinatura da carta, faltando quase sempre a alma e pulso, aqui respira-se o mundo de Bottura e algumas das suas receitas mais clássicas como os tortellinis, mas a cozinha é de Karime Lopez, que com o seu jeito peculiar de combinar texturas e de dar elegância às tradições culinárias que não são suas, fazem deste Osteria Gucci muito mais do que uma sucursal. É um restaurante válido por si só, tão válido que em pouco mais de 1 ano ganhou a sua primeira estrela michelin e espalhou-se pelo mundo com novos restaurantes nos EUA e Japão.

Obviamente a combinação de Bottura e Gucci tem um preço, pelo que não se pode esperar uma refeição em conta como em muitos dos grandes clássicos fiorentinos, no entanto está longe de ser apenas mais um espaço para ver e ser visto. Aqui  a combinação gastronómica e o lado fashionista é feita em harmonia, satisfazendo a todos de igual forma, até o gastrónomo com alma de Anton Ego.

Osteria Gucci
Preços a partir de 75€ – (sem vinhos)
P.za della Signoria, 10 – Florença
+39 055 062 1744

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Photos: Flavors & Senses e *divulgação

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