Bruxelas

Numa das nossas viagens a Paris, decidimos apanhar um comboio na Gare du Nord, e em cerca de 1h30min chegamos à capital da Bélgica, Bruxelas.
Vista por muitos como uma cidade cinzenta (tenho uma certa tendência a concordar), onde a vida anda à volta das instituições europeias ali sediadas, esta cidade revelou-nos algumas surpresas com uma animada vida social e cultural.

Bruxelas é a sede da Comissão e do Conselho Europeu, sendo responsável por 75% do trabalho do Parlamento Europeu, o que a transforma na capital da União Europeia, conferindo-lhe, sem dúvida, um carácter sério!
No entanto, é uma cidade que vale a pena a visita, nem que seja assim de uma forma mais curta, como foi o nosso caso! É um lugar com história, que reúne construções de estilos gótico, barroco, neogótico e clássico, e ao mesmo tempo é uma cidade cosmopolita, onde podemos encontrar desde executivos a estudantes (encontramos na praça principal uma tuna académica portuense! ) ou simplesmente boémios.

Tuna Académica Portuguesa na Grand Place

É a sede dos maiores museus de miniaturas e carros antigos da Europa, a capital mundial da cerveja, chocolate (onde comi os meus chocolates preferidos, Pierre Marcolini – ver) e waffles.

Aconselho-vos a comprar o Brussels Pass, que permite a entrada gratuita em mais de 30 museus, transportes públicos gratuitos (bus, comboio e metro da empresa STIB), descontos em restaurantes e bares e descontos no acesso a algumas atrações culturais/turísticas. Podem comprar para 24, 48, ou 72h, por 24, 36, ou 43€ respectivamente, e adquirir este cartão nos postos de informação a turistas que encontram na Praça principal da cidade, por exemplo.

Grand Place

Por falar nesta praça, Le Grand Place, é considerada por muitos como uma das mais belas do mundo, como descreveu Victor Hugo. Tenho que admitir que a chegada a Bruxelas e o início da visita não estavam a ser particularmente interessantes, como são normalmente as minhas viagens, o frio intenso e o cinzento do céu também não ajudava muito (fomos em Fevereiro), no entanto, quando chegamos a este local mágico, tudo se desvaneceu criando-se um novo universo à minha volta.

Hôtel de Ville

Esta praça foi construída no local onde no século XI se desenvolvia o antigo mercado de padeiros e carpinteiros, talhantes, entre outros ofícios. Os seus imponentes monumentos e edifícios datam do século XV, mas só o Hôtel de Ville (câmara municipal) de Bruxelas e algumas fachadas resistiram aos bombardeamentos franceses de 1695. Reconstruída anos mais tarde, conta agora com uma belíssima arquitetura eclética.
Desde 1998, a Grand Place é Património Mundial da UNESCO.

Com 96 metros de altura, o prédio mais imponente é o Hôtel de Ville, onde é possível fazerem uma visita guiada e ficarem deslumbrados com as belíssimas coleções de objetos de arte. Outro edifício monumental é a Maison du Roi onde fica o Museu de Bruxelas com uma miscelânea da história da cidade.

Maison du Roi

A praça é maravilhosa, a arquitectura é estonteante num misto de gótico, neo-gótico, barroco e clássico que se verificam nas diferentes Guildas, ou antigas corporações de ofício – associações que surgiram na Idade Média, a partir do século XII, para regulamentar o processo produtivo artesanal. Assim, a praça é constituída por edifícios simbólicos e estátuas históricas, como é o caso de Le Renard, Guilda dos Capelistas, representado pela estátua duma raposa, que lhe justifica o nome; Le Cornet, Guilda dos Barqueiros; Le Cygne, que pertencia à Guilda dos talhantes, representado por uma lindíssima estátua de um Cisne; Maison des Boulangers, Guilda dos Padeiros, representado por um magnífico edifício que contém figuras demonstrativas dos elementos da arte de fazer pão.

Le Renard

Se tiverem oportunidade de visitar Bruxelas em Agosto, saibam que a cada 2 anos, e durante uma semana, o centro da praça é preenchido por um tapete florido, repleto de begónias coloridas, criado pela primeira vez em 1971, e mantendo-se até aos dias de hoje, atraindo milhares de turistas.

Mas, nem só da praça vive esta cidade.
Numa caminhada descontraída, podemos descobrir toda a energia, arquitetura, cultura e animação que Bruxelas nos oferece.

Rue des Bouchers e os habituais restaurantes de caça ao turista. FUJAM!

Para isto, a melhor forma é seguir caminhando pela cidade fora! Esta percorre-se bem a pé, num total de cerca de 10km. Podem sempre, se preferirem, optar pelo autocarro turístico, por 22€ o dia inteiro, parando em vários pontos importantes, ou pelo aluguer de uma bicicleta (sistema Villo!) com preços bastante convidativos (grátis nos primeiros 30min, 0,5€ na primeira hora, 3€ na hora seguinte e 2€ a cada hora), e com vários pontos de retirada e entrega espalhados por toda a cidade, ou ainda, mantendo-nos nas bicicletas, pelo sistema de Brussels Bike Tours, que sai da Grand Place, dura cerca de 3h30 custa 25€ e percorre a cidade de bicicleta com um guia turístico que fala em Inglês. Muito sinceramente, eu prefiro sempre andar a pé!

Se formos vagueando pelas ruelas que circundam a Grand Place vamos descobrir uma série de locais ou simplesmente pontos de especial e até estranho interesse, como é o caso de Manneken-Pis, uma pequena escultura de bronze (61 cm) de um menino a urinar.
A estátua original foi construída em 1618, e está guardada na Maison du Roi.

Manneken-Pis

Não existe bem um consenso quanto à origem desta peça de arte, nem se sabe muito bem qual o seu significado, mas que tem a sua piada tem, principalmente quando esta é vestida com roupas de temas diversos, o que acontece todas as semanas.

Um dos locais pelo qual passamos primeiro, pois ficava junto ao nosso hotel, foi La Bourse de Bruxelles, ou a Bolsa de Bruxelas, fundada em 1801 por Napoleão, quando a Bélgica era uma colónia francesa. Exemplo de grande arquitetura de estilo neoclássico, várias esculturas decoram o exterior do prédio, representativas do comércio, indústria, arte, ciência, metalúrgica e outras áreas. Rodin foi responsável por parte do trabalho deste magistral edifício.

La Bourse de Bruxelles

Ainda passeando pela cidade, encontramos o Palais Royale e a Place du Palais. A sede do poder executivo belga, com uma lindíssima fachada neoclássica, foi construído depois de 1900, sob a iniciativa do rei Leopoldo II. As salas e os jardins do palácio são abertos todos os anos para visita entre o final de Julho e o começo de Setembro.

Outra das obras-primas da cidade é o Palais de la Justice, Localizado no alto de uma colina, e inaugurado em 1883, é conhecido por ser a maior construção do século XIX. A sua imponente cúpula de 116 metros de altura pode ser vista de toda a cidade. A poucos passos do Palácio fica a boémia região de Marolles, onde turistas, curiosos e bons negociadores procuram pequenos tesouros nos seus mercados.

Palais Royale

Uma das zonas mais encantadoras da cidade é o Mont des Arts, que inclui L’Albertine, Musée des Instruments de Musique, Carillon du Mont des Arts. Esta região é histórica e fica numa ladeira repleta de museus de arte e belas ruas. Do jardim da mítica e florida praça L’Albertine (pena que na altura que lá estivemos o jardim não estava florido) é possível ver a Grand Place, o centro histórico, a Basílica de Koekelberg e até o Atomium. Nesta zona encontramos também o Musée des Instruments de Musique que apresenta a maior coleção de peças de música do mundo. Por fim, o Carillon du Mont des Arts com 24 sinos (12 na frente) e 12 figuras históricas e folclóricas da história belga.

L’Albertina

Para quem se quer dedicar às compras, podem optar por visitar Lês Galeries dês Saint Hubbert. Esta foi a primeira  galeria comercial da Europa, aberta em 1847 pelo Rei Leopoldo I. É coberta por uma enorme cúpula de vidro, o que faz dela uma das mais bonitas do continente Europeu. Aqui dentro, há do mais luxuoso (e caro) desde jóias, chocolates, roupas, além de restaurantes, cafés, cinema e teatro. Foi aqui que abriu a primeira loja de chocolates da Neuhaus, em 1857.

Duma perspetiva diferente, mais actual e certamente mais financeira também, podem visitar o Le Quartier Européen: Parlamento Europeu (Parlement Européen), Praça de Luxemburgo (Place du Luxembourg), Comissão Europeia (Comission Européen), Parque do Centenário (Parc du Cinquantenaire), basicamente os prédios mais imponentes e modernos da cidade. No Parque do Centenário, os bruxelenses aproveitam o jardim e a companhia do Arco do Triunfo para descansar.

Quem lê o blog apercebe-se perfeitamente da minha paixão por arte sacra, não sou religiosa, ou sou apenas q.b., mas realmente as igrejas despertam imenso o meu interesse.
Em Bruxelas encontramos várias. Três delas chamaram bastante a minha atenção.

Catedral St-Michel et Ste-Gudule

Igreja Notre Dame du Sablon e Petit Sablon – de estilo gótico, do século XV e XVI, com vitrais coloridos, arcos góticos, duas capelas em estilo barroco. À frente exibe-se uma monumental praça cercada por 48 colunas góticas com pequenas estátuas de bronze em cima que representam profissões antigas e uma fonte cercada de 10 estátuas.

Cathedrale St-Michel et Ste-Gudule – Uma das mais bonitas catedrais da Europa, localizada no alto do monte Treurenberg, foi a primeira igreja do país, datada do século XV. O nome faz referência aos santos padroeiros da Bélgica.

Por fim, A Basílica de Koekelberg – Basílica do Sagrado Coração – é a mais imponente e importante igreja da Bélgica.
Foi Construída para comemorar o 75º aniversário da independência do país, foi iniciada em 1905, mas devido à escassez de recursos financeiros (a construção dependia inteiramente de doações feitas pelos fiéis), só foi inaugurada em 1971.
A decoração no interior é em estilo Art-Deco, com uso maioritariamente de mármore. Além das cerimónias religiosas, possui um teatro e dois museus. oferece uma das melhores vistas de Bruxelas a partir da plataforma existente na sua cúpula.

Museu dos Instrumentos de Música

A cidade está recheada de locais com um tanto ao quanto de curioso e animado, como por exemplo o Parque Mini-Europa, um dos principais parques de miniaturas do mundo. Construído numa área de mais de 24 mil m², tem atualmente mais de 300 atrações de 80 cidades europeias. É engraçado verificar locais onde já estivemos e vê-los em ponto pequeno, os detalhes são incríveis!

Outro local que merece visita é o Atomium, um conjunto de nove esferas metálicas construídas para a exibição universal de Bruxelas de 1958. Localizado no Heysel Park, tem 103 metros de altura, e simboliza uma molécula de ferro ampliada 165 bilhões de vezes, representando a importância da Bélgica na produção do aço e fazendo uma alusão às nove províncias belgas da época.
É um ícone nacional, basicamente o Atomium é quase o mesmo que uma Torre Eiffel para Paris.

A banda desenhada junto do Palais de la Justice

Já todos sabemos que Bruxelas é um paraíso para os amantes de histórias de quadrinhos (é a terra de origem do Tintin, Lucky Luke, Smurfs) mas o que eu não sabia era que como uma maneira de promover os personagens e trazer um pouco mais de cor à cidade, surgiu em 1991 um projeto com o objetivo de realizar pinturas de histórias em quadrinhos em áreas públicas. O que começou com um projeto pequeno, apenas para dar um pouco de vida aos muros e laterais de prédios antes pintados de branco, mais de 20 anos depois é um sucesso, atraindo turistas interessados em conhecer não apenas o centro histórico, museus, parques e gastronomia, mas sentir-se parte das histórias representadas nos painéis e, porque não, matar saudades da infância. Além de podermos desfrutar disto a cada rua e esquina, podem visitar, também, o Centre Belge de Bande Dessinée, eu adorei percorrer as histórias de quadradinhos, sentir-me parte da fantasia, voltar a ser criança!

O Songoku também faz parte do Centre Belge de Bande Dessinée

Outra zona magnífica que merece a vossa visita é o distrito de Laeken, localizado na região noroeste de Bruxelas, famoso por ser a residência oficial da família real belga, o Castelo Real de Laeken é a casa do Rei Albert II e da sua família. Aqui podem encontrar a Igreja Notre Dame de Laeken, o Monumento Rei Leopoldo I, as Estufas Reais de Laeken, a Torre Japonesa e o Pavilhão Chinês. Infelizmente já não tivemos tempo de percorrer esta região, mas se vocês tiverem, não deixem de o fazer.

Entrem nas imensas cervejarias tradicionais e percam-se na imensidão de oferta das cervejas tradicionais belgas

Lembro-me que ao início a sensação que tinha era que Bruxelas não estava a ser interessante. Mas findada a viagem, percebi que tinha ficado muito por fazer, e que a cidade era um infindável poço de beleza, e que mesmo com todo aquele ar sério de cidade financeira e industrializada, Bruxelas tem muito para nos oferecer.

Vou regressar, certamente.

Bem, agora, rumo a Bruges que fica mesmo aqui ao lado!

Onde Ficar
Hóteis Sofitel
Hotel Metropole
Onde Comer
Imperdíveis os chocolates de Pierre Marcolini
Para o clássico prato de Mexilhões e batatas fritas, nada como o Au Vieux Bruxelles.
Para os mais exigentes e requintados podem sempre optar pelos vários restaurantes com estrela Michelin como o Comme Chez Moi (2*) ou o Moderno WY de Bart De Pooter (1*)

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2 Comments

  1. Posted Agosto 18, 2014 at 7:06 pm | Permalink

    Belíssima reportagem! Passei há uns anos um fim-de-semana em Bruxelas e gostei muito! (passear é tão bom, não é?…). Se não conhecem, recomendo-vos nas redondezas também Bruges. Um encanto!
    Beijo
    Babette

    • Posted Agosto 31, 2014 at 9:41 pm | Permalink

      Olá Babette,

      Nada como conhecer o mundo, sem dúvida. O artigo da Cíntia sobre Bruges também já foi publicado =).

      Beijo,
      João

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