Paris – Septime*

septime - 4

Paris é uma cidade de luxo, sempre no topo da lista das cidades com custo de vida mais elevado e claro está a gastronomia não é excepção. Numa cidade repleta de luxuosos e imponentes salas de jantar, fiéis à clássica e refinada alta cozinha francesa, onde uma experiência pode muito bem arrasar com a conta bancária de qualquer um (os oligarcas são sempre excepção), surgiu nos últimos anos um movimento que prometia democratizar um pouco mais a cozinha francesa, os Neo-bistros, munidos de chefs altamente criativos, serviços descontraídos e preços mais acessíveis. Um movimento que começou com Yves Camdeborde (antigamente no La Régalade, mais recentemente com o Le Comptoir ), passando por Inaki Aizpitarte ( Le Chateaubriand, que brilha regularmente nos tops da The World’s 50 Best Restaurants) e que tem hoje a sua estrela maior no Septime de Bertrand Grébaut.

septime - 6

Bertrand que se tornou cozinheiro debaixo das asas de Alain Passard, no famoso L’Arpège, “passou” ainda pelo interessante Ágape (onde conquistou uma estrela Michelin) antes de abrir o seu Septime com o sócio Théo Pourriat há pouco mais de 3 anos. Desde então o sucesso tem sido meteórico, conseguir uma reserva é uma tarefa difícil, que requer paciência e algumas (“muitas”) horas em volta do seu site, e encontrar por lá estrelas da cozinha e do entretenimento é coisa fácil, tal o hype em volta do espaço.

Mas será que a cozinha de Bertrand vive para as elevadas expectativas que se criam? Vive, e de que maneira, tanto que até o tão clássico e exigente Guia Michelin Francês se rendeu ao Septime (uma estrela).

septime - 7

A decoração, a cargo de Théo Pourriat, transporta-nos um pouco para os modernos restaurantes Escandinavos, num jeito de combinação entre o rústico e o industrial. Com bonitas mesas de madeira e paredes cimentadas, num ambiente descontraído e cosmopolita onde a grande estrela é, sem dúvida, a comida.

Com a visita marcada ao almoço, existem duas fórmulas: entrada+prato+sobremesa (30€) ou a degustação de 6 Pratos (60€). Começamos mais uma vez com uma boa selecção de pão ( é ótimo ver quando um restaurante se preocupa com o pão que serve), ao qual se foram sucedendo pratos, simples, e emocionantes.

septime - 12Vieiras, Ostra e Daikon
Vieira crua, com um molho de ostras e agrião, com um jogo interessante entre o amargo do  molho e a delicadeza e doçura da vieira. Bem acompanhado por pequenos pedaços de daikon e de grãos de trigo sarraceno, que acrescentaram e bem, textura ao prato.

septime - 13Caldo de Abóbora, ovo escalfado e foie
Caldo claro e límpido, como um verdadeiro consommé, repleto de sabor vegetal e bem enriquecido com pedaços de abóbora, foie gras e chicória. Para ligar tudo, um fantástico ovo, cozinhado no ponto, com a gema cremosa a dar untuosidade e ligação entre todos os elementos. Delicioso.

septime - 11Lula, funcho, pak choi e cerefólio
Mais um prato de aspecto simples, com recurso a 3 ou 4 ingredientes num conjunto em que todos brilham. Excelente a lula, de bom sabor e textura, e não menos interessantes os legumes, que brilham no prato, ligados por uma excelente manteiga de ervas que lhe serve de molho.

septime - 10Pá de cordeiro, salvia e laranja
Cordeiro da pequena ilha d’Yeu, cozinhado a baixa temperatura durante várias horas, suculento e cheio de sabor. Mais ainda quando provado com o molho, feito dos líquidos da cocção salvia e laranja. Nota altíssima ainda para o molho de anchova que cobria a couve e para os pequenos pedaços de laranja queimada, cujo sabor a fumo e o amargo do queimado criavam ainda mais camadas de sabor no prato. Muito, Muito bom.

septime - 9Reblochon e Beaufort
Seguiu-se um dos pratos de queijos mais pequeno e modesto que já me fora servido em Paris. Mas desenganem-se os que acham que isto é uma crítica, foram dois dos melhores queijos que comi, e certamente os melhores exemplares de cada um deles que já provei. Na verdade não queria que o famoso Reblochon de Savoy acabasse e que as lascas delicadas do Beaufort, da mesma região, se perpetuassem. Um fantástico prato de queijos que representa bem a essência do restaurante.

septime - 8Creme de Fromage Blanc, citrinos e muesli
Uma sobremesa bem ao género do que é habitual no Septime, sobremesas leves em que se combinam cremes com cereais e frutos. Desta vez, um creme de fromage blanc com mel, bem acompanhado de bergamota, clementinas e limão e muesli caseiro. Menos interessante que os restantes pratos da refeição, mas a cumprir com o seu propósito de um final leve e fresco.

A carta de vinhos é feita com base em pequenos produtores de vinhos naturais (sem sulfitos), e que agora podem também ser comprados no mais recente Septime La Cave, o novo bar e loja de vinhos do grupo. Para a nossa refeição decidimos acompanhar a refeição com os excelentes sumos naturais de  La Table des Lutins, com destaque para o sumo de pêssego e alfazema que me arrebatou.

O Serviço é descontraído, à semelhança do espaço e da cozinha mas não menos profissional, com toda a equipa a saber com rigor as características de cada prato e a sua confecção, algo mais interessante ainda quando se sabe que a carta do Septime se altera diariamente. É garantidamente uma equipa motivada, com vontade de fazer mais e melhor sem perder a marca que a caracteriza e diferencia.

septime - 5

Considerações Finais
Bertrand e a sua equipa mostram-nos, e ensinam os seus concorrentes, que é possivel ser brilhante, inovador e autêntico sem roubar a carteira de nenhum comensal. É garantidamente o restaurante do Guia Michelin mais barato de Paris, e provavelmente do Mundo.  Sobre as espectativas e o Hype em torno do Septime, são facilmente vencidos pela cozinha de Bertrand Grébaut, a qualidade dos ingredientes, a genialidade e criatividade por trás de um menu que se altera diariamente ao mesmo ritmo que os sentidos e as emoções do chef, os empratamentos minimalistas e encantadores, que nos reconfortam e “modernizam” as memórias de cozinhas de outros tempos, como deve ser um verdadeiro Neo-Bistro. O ambiente, a cozinha, e os seus pratos trazem com eles uma forte carga de emoções, que tornam a visita ao Septime inesquecível, e que nos fazem querer voltar a passar horas a tentar outra reserva e marcar mais uma viagem para Paris.

septimegrahams E para agradecer a genialidade do chef Betrand Grébaut, e mostrar o que de melhor se vai fazendo por Portugal, deixamos como prenda um clássico português, o Vinho do Porto, com fantástico Tawny 20 anos da Graham’s, que nos acompanhou nesta viagem por Paris.

Septime
80, Rue de Charonne, Paris

Graham’s Tawny 20 anos com o apoio da Symington Family

This entry was posted in Restaurantes - França and tagged , , , , , , , . Bookmark the permalink. Post a comment or leave a trackback: Trackback URL.

Skomentuj

Your email is never published nor shared. Required fields are marked *

You may use these HTML tags and attributes <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>

*
*