Ofício

Um corrupio na busca por um bom restaurante, próximo do hotel onde nos encontrávamos e aberto às 15h, acabou, felizmente, e, após uma recomendação da Inês Matos Andrade, no Ofício. Um tasco atípico como gostam de se caracterizar, mas que nada tem de tasco, nem na comida, nem no ambiente ou serviço.

Em 2021 o espaço foi completamente renovado, mantendo as abóbadas que tanto caracterizam o chiado – aliás, é uma boa homenagem à história que ali se escreveu, ou não estivessem instalados num antigo e histórico Convento. Ganhou novas formas, cores, grafismo e, claro, uma nova carta, agora assinada por Hugo Candeias.

Basta olharmos para as redes sociais do Ofício para percebemos que reflete bem uma nova geração gastronómica, dos cozinheiros, aos empresários e, claro, aos clientes que pretende atrair e tratar como fieis, como qualquer bom tasco português.

Hugo Candeias não aparece por acaso, liderava também o projecto de fine dining The Art Gate – entretanto encerrado –  vindo de uma movida Barcelona onde trabalhara ao lado de Albert Adrià nos seus restaurantes mexicanos. Uma experiência bem visível na construção do menu deste Ofício, as cores, as técnicas, os elementos… sempre com um lado cool, onde bons produtos são trabalhados com precisão mas sem que nada pretenda ser levado demasiado a sério, nada, excepto o sabor!

Uma mesa corrida para trazer a memória das mesas comuns das tascas

Numa reserva tardia que se pretendia rápida partilhamos uma série de petiscos sem entrar nos elementos mais complexos da carta. Começamos com boas ostras ao natural da Neptun Pearl de Setúbal e um espumante Blanc de Noirs da Ribeiro Santo.

Ostras Neptun Pearl

Mexilhões da Costa em escabeche
Ao primeiro petisco sabemos que estamos no sítio certo, mexilhões irrepreensíveis, bem limpos, tratados no ponto e com leve e delicado escabeche bem refrescado pela zeste de limão. Deliciosos com o ótimo pão de massa mãe da Isco. Faltava apenas umas chips da Bonilla à la vista para me transportar até próximo do nirvana de nuestros hermanos.

Tártaro de novilho, tutano e brioche tostado com azeite
Tinha o olho neste tártaro desde a sua primeira aparição nas redes sociais! Cortado à faca grosseiramente, a deixar transparecer os veios de gordura da carne, sem excesso de temperos, onde o pickle de sementes de mostarda ganha destaque, e claro, o tutano, que lhe traz untuosidade e uma profundidade de sabor difícil de igualar. Certamente um dos melhores exemplares da capital. Nota positiva também para o brioche tostado, embora o excesso de azeite verde mascarasse um pouco do seu sabor.

Moelas “Atípicas Portuguesas”
As típicas moelas estufadas que tanto nos caracterizam ganham aqui o toque refinado da alta cozinha. Ponto exemplar de cocção, e dois molhos distintos que se combinam para dar riqueza e sabor à miudeza. Bom contraste dado pela zeste de lima, que na medida certa refrescou e elevou todo o conjunto.

Aba estufada, pão brioche
Num tasco que se preze há que deixar os talheres de lado e sujar as mãos, pelo que é essa gula tasqueira que esta sandes tão bem representa – carne suculenta e a desfazer, molho e alface fresca e crocante. Rica, untuosa e com um je ne sais quoi de badalhoca refinada que é sempre o que se pretende. Tarde de queijo
Para finalizar, uma tarte de queijo basca, ou como aqui lhe chamam – tarte de queijo do chef Hugo Candeias – uma versão da clássica tarte imortalizada pelo La Viña e cuja moda e loucura se expandiu por toda a Espanha. Um desses ávidos consumidores de tarte de queijo sou eu próprio, e com uma boa dose de calorias ingeridas posso afirmar que rivaliza com as melhores do país vizinho. Em Madrid ou Barcelona o Ofício teria fila à porta só para poderem comprar esta tarte.

Foi a pensar nisso que o chef e o grupo Paradigma (detentor do restaurante) se preparam para abrir a Dona by Hugo Candeias, um espaço totalmente dedicado a este pedaço de céu.

A meio da tarde estávamos já sozinhos no espaço e com direito a serviço com explicação do chef incluída pelo que não há nada a apontar se não a fluidez e descontração de tempos e serviço (especialmente quando nos fazemos acompanhar de uma pequena bebé). Na carta de vinhos senti que havia margem de a casar melhor com o espaço, com propostas menos clássicas mas que não tivesse necessariamente de cair em exclusivo na trend natural, dito isto, hoje verifico que essas alterações aconteceram e que a carta é hoje bastante mais interessante.

Considerações Finais
Compreendo facilmente quem fez do Ofício uma segunda casa e que os seus clientes, foodies ou não, não parem de o recomendar. Espaço bem conseguido, boa música, pratos diferenciados no produto e na técnica com preços justos (uma raridade no Portugal cosmopolita). A dinâmica de tascos, petiscos e fazê-lo de forma moderna sem descuidar o conforto e respeitando o receituário é um equilíbrio difícil de se conseguir e pelo qual este Ofício está mais do que de parabéns.

Agora resta-nos voltar para provar pratos mais substanciais que há meses que ando de olho no arroz de forno e na raia com molho de ervas, isso e mais uma desculpa para trazer mais uma tarte de queijo inteira para o Porto.

Ofício
Preços a partir de 30€ – (sem vinhos)
Rua Nova da Trindade, 11k – 1200-301 Lisboa
+351 910 456 440

English Version

Fotos: Flavors & Senses

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