Ichiban

Estamos em tempo de silly season política, com governantes a disparar ataques e desculpas sem anexo nem fundamento como é apanágio dos nossos governantes e os seus rivais. Mas desenganem-se, não mudei  o conteúdo dos meus textos, quero é com isto agradecer a um certo tipo de políticos que fez mais por Portugal do que muitos dos nossos dirigentes, e falo da embaixada do Japão, que com excepção do memorável mestre Yoshitaki, apresentou a Portugal os dois grandes Porta estandartes da cozinha nipónica no nosso país.

Primeiro foi Tomoaki Kanazawa – que se prepara agora para retornar ao Japão, para infelicidade dos portugueses – e depois Masaki Onishi que o substituiu na Embaixada e que 3 anos depois rumou ao Porto para abrir este Ichiban.

Ora, como o próprio nome indica (Ichiban significa “Primeiro” em japonês) o restaurante foi o primeiro espaço da cidade a apresentar uma cozinha de influência puramente japonesa e não tanto de sushi-fusão-brasil, como era habitual encontrar em 2011 e até nos dias de hoje.

E não terá sido certamente fácil esta adaptação do chef à cidade e dos comensais à sua proposta de crivo purista, onde o importante não é inventar ou reinventar mas sim aperfeiçoar o simples. Um trabalho de minúcia e detalhe, bem ao jeito da cultura japonesa.

O restaurante, em plena Foz do Douro, ocupa um pequeno espaço em frente ao Mar dividido em 3 pequenos pisos, de decoração minimalista ao bom estilo japonês com a madeira de tons claros a trazer conforto e aconchego. Cada sala tem o seu detalhe e cada uma delas pode satisfazer diferentes gostos, no piso inferior é possível assistir ao trabalho de Masaki Onishi na cozinha (há alguns anos que o chef entregou aos seus discípulos a confecção do sushi, dedicando-se inteiramente aos pratos de cozinha japonesa), no piso térreo é possível apreciar toda a agitação do restaurante e o trabalho dos seus Itamae, é aqui e ao balcão que preferimos ficar, já no piso superior, onde nos instalamos na última visita, não faltam as vistas sobre o mar e o piso térreo.

Já sentados e de pedido feito, é-nos proposto um pequeno snack (2€) que serve de couvert, e que normalmente viaja entre pratos de peixe ou estufados de porco preto, tendo numa última visita sido brindado com uma leve e saborosa salada de porco preto, com finas fatias de carne a serem bem conjugas com o molho leve e a frescura das verduras que o acompanhavam.

Tako Yaki (5,5€)
Tako Yaki é como quem diz ” a resposta japonesa a uma patanisca de polvo”,  pequenas bolinhas de massa  recheadas com polvo e preparadas numa forma especial. Aqui particularmente bem preparadas, com capa crocante e interior suculento e guloso, mais ainda quando conjugado com o molho especial de travo doce e a maionese japonesa. Assim vale a pena!

Okonomiyaki de Marisco (16€)
A tradicional panqueca japonesa, feita com uma massa semelhante à do Tako Yaki, aqui bem recheada de legumes, camarão, lulas e vieira. Uma dose farta e para partilhar, que apesar do excesso de molho se mostrou a um nível bastante alto, sem o sabor da farinha e com os elementos a realçarem-se num bom jogo de texturas e uma pecaminosa doçura.

Tempura Moriwase (16€)
Moriwase significa “à escolha do chef” pelo que é ele que se encarrega de escolher os produtos que são postos à nossa frente. Entre a variedade de legumes, destaque para o espargo e também os camarões, fritos  de forma irrepreensível em polme fino e crocante como manda a lei. Bom também o molho e a frescura do daikon e do gengibre ralados.

Carapau Ryukyu (10€)
Prato obrigatório em cada visita, bem pode ser um dos meus favoritos da carta. Uma espécie de tártaro de carapau em cubos mais grossos, preparado com molho “ryukyu” típico da região de Okinawa, e refrescado pelo gengibre, a erva príncipe e o cebolo.

Sashimi Moriwase (preço variado consoante o nº de peças)
Há lá melhor forma de apreciar o trabalho de um sushiman do que ver a passagem das suas afiadas facas pelo peixe, há, mas já lá vamos! Sashimi com uma alargada variedade de peixes (sempre um dos pontos fortes deste Ichiban), onde perdemos as contas à variedade de peixes brancos e onde provamos alguns como o peixe porco, o peixe agulha ou o rodovalho, que dificilmente encontramos noutros restaurantes. Destaque para o corte mais grosso e purista que nos permite saborear o peixe em todo o seu esplendor, assim como para o Tamago (omelete) que traz um final doce depois de tanto peixe.

Niguiri Moriwase (preço variada consoante o nº de peças)
E aqui está! É a ver a habilidade do chef a moldar os niguiris e depois de provar o seu shari (arroz de sushi) que podemos apreciar o seu trabalho em todo o seu esplendor! Nota alta para a qualidade deste último, irrepreensível em todas as visitas. Aqui destaque para o bom corte dos peixes, alguns deles complementados, e bem, por toppings. Quando há sardinha e o restante “peixe azul”, é aproveitar!

Gunkan de ouriço (preço variado) 
Há quando houver, é um dos bons lemas de quem prima pela qualidade do produto, e o Ichiban é um bom exemplo disso mesmo. Quando há ouriço – é certo que não estamos perante os grandes e cheios ouriços de Hokkaido – não deixamos de finalizar com uma explosão de mar e iodo na boca.

A acompanhar esteve o habitual chá verde japonês que me parece de estilo  “kukicha”, que é sempre o parente pobre da refeição, não pela qualidade do mesmo, mas pela forma como é preparado – utilizam sempre água demasiado quente, quando não deveriam passar dos 70/80º, queimando assim o chá e fazendo com que se percam muitas das notas de algas e frescura características do chá verde. Um ponto que merecia mais atenção!

O serviço decorre entre o português tímido da esposa do chef, sempre atenta a tudo e  uma jovem equipa de portugueses. Sempre de forma cordial sem pretensiosismos nem grande rigor técnico, mas que compensa tudo com o conhecimento da carta e dos peixes disponíveis.

Considerações Finais 
Masaki é homem de poucas palavras e para o ver é preciso espreitar pelo vidro que nos mostra a cozinha, mas o que importa é que em cada prato faz refletir a sua cultura e consequentemente a sua personalidade – rigoroso, quase austero, autêntico e misterioso.

É isso que sentimos quando mergulhamos quer nos pratos mais típicos dos “Izakayas” ou nos mais apurados cozinhados japoneses, um mar de descobertas e de sabores equilibrados, que são uma interpretação de um povo e a sua cultura.

O Ichiban é peixe e arroz, é sushi no seu estado mais puro e bruto, mas na realidade é muito mais do que isso, é um restaurante com uma cozinha séria e verdadeira, pelo que não foi à toa que em 2016 e 2017 venceu os prémios “Flavors & Senses – Os Melhores Para” na categoria “Restaurante Especializado” (ver). Pelo que não estamos apenas perante um grande restaurante do Porto, mas também um dos melhores embaixadores do Japão em Portugal.

Nota
Para quem ainda não descobriu a cozinha do Ichiban, podem sempre optar por um dos melhores menus de almoço da cidade , com opções de sushi e de cozinha e com preços entre os 17€ e os 21€, dependendo dos dias e do número de pratos.

Ichiban
Preço Médio: 40€ por pessoa sem vinhos
Avenida Brasil, 454 – Porto
226 186 111

English Version

Fotos: Flavors & Senses

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