Portucale

Foi em 1969, num dos prédios mais altos da cidade do  Porto, que nasceu o Restaurante Portucale. Depois de meio século e uma estrela Michelin, o espaço continua a ser um dos mais nobres da cidade, Eça de Queirós, relataria todos os seus pormenores decorativos que se mantêm inalterados para felicidade de muitos e desinteresse dos seguidores acérrimos das novas tendências. A verdade é que existe espaço para todos, mas infelizmente o Portucale tem sido esquecido pela maioria dos comensais que se espalham pelos inúmeros novos restaurantes da cidade. Adiante.

Depois de uma subida até ao 13ºandar,  batemos de caras com aquela que será provavelmente uma das melhores vistas sobre a cidade do Porto. Ao entrar no restaurante respiramos nostalgia, a magia de outros tempos, da decoração ao serviço até à carta de base Portuguesa com toda a técnica e elegância da cozinha Francesa.

Iniciamos a refeição com pão de boa qualidade, uma fantástica pasta de legumes, azeitonas, manteiga e uns simples mas competentes fritos (rissóis, croquetes, bolinhos de bacalhau).

Concha de gambas gratinadas (10€)
Um clássico da casa, que nas mãos erradas poderia não passar de uma papa com cobertura de queijo, no entanto, não é o caso, os camarões apresentam-se em qualidade e quantidade e apesar da sua combinação com queijos não ser da minha eleição mostrou-se bastante saborosa.

Abacate recheado com lagosta e camarão, molho de cocktail (12,5€)
Os anos 70 fazem sentir-se em força, e como tal o clássico cocktail de camarão não poderia faltar na carta. Aqui muito bem apresentado, sobre gelo picado, com uma boa dose de camarão e lagosta ( para lá do ponto), com um excelente molho de cocktail. Uma ótima opção.

Cherne grelhado, molho Ravigote (24,5€)
Peixe bem grelhado, e finalizado com manteiga, ou não se falasse em técnicas francesas. Bem acompanhado por esparregado, batatas torneadas e legumes salteados. O Peixe, no ponto, e textura magistral, bem acompanhado e realçado pelo molho Ravigote, mais um daqueles fantásticos molhos franceses. Fantástico.

File Mignon, molho béarnaise (23,5€)
Raras foram as vezes, em que um File Mignon não significava simplesmente um bife do lombo, provavelmente pela influência Brasileira. No Portucale foi servida verdadeiramente a ponta do lombo. Com o acompanhamento clássico da casa, batatas torneadas, arroz amarelo e legumes salteados no ponto. O Filé estava com coação perfeita e o clássico molho francês  fez valer a sua presença, elevando a qualidade do prato.

Toucinho do Céu (8€)
Nas sobremesas o destaque vai claramente para a doçaria conventual Portuguesa, chegando à mesa no carrinho e dificultando a escolha perante tantas opções à vista. O Toucinho do céu é uma daquelas sobremesas à qual não resisto desde criança, este era bom, sem ser maravilhoso que seria o esperado dado o preço pago por ele.

Sopa Dourada do Convento de Santa Clara (8€)
Mais uma obra de doçaria Portuguesa, calórica e cheia de sabor. Excelente combinação de texturas e sem cair facilmente no excesso de doçura. Um doce, mas mais uma vez com um preço excessivo para o apresentado.

A carta de vinhos, na qual se encontram algumas relíquias, é extensa e bem composta, com preços quase sempre correctos. Acompanhamos a refeição com um competente Cabeça de Burro Reserva de 2009 (18€).

O Serviço de sala é um dos pontos mais fortes do Portucale, todos os funcionários de uma sala deviam passar por aqui um dia, aprender com o passado para fazer melhor no futuro. Tudo se mantém fiel ao clássico francês, com os funcionários, atentos, amáveis, com conhecimento de causa, e know how prático na hora de servir e empratar na mesa.  Um Must.

Considerações Finais
A melhor vista em volta do grande Porto foi certamente o primeiro cartão de visita do Portucale e continua a sê-lo hoje em dia. Ao visitar o restaurante viajamos no tempo, conhecemos histórias, prémios, pratos e atendimento de outros tempos, numa espécie de Midnight in Paris. Com uma base tradicional, muitos dos seus pratos estão já datados, contudo quem o visitar está longe de se sentir num museu de gastronomia antiga mas sim num espaço de savoir faire. É louvável o esforço feito para não cair na tentação de alterar o seu modelo, pelo que merece ser visitado não só pelos seus clientes de sempre, mas também por novos clientes que queiram desfrutar de toda uma experiência gastronómica. Não sendo um restaurante acessível a única nota negativa vai para o preço das sobremesas, excessivo para o apresentado.

Portucale
Rua Alegria 598, Porto
220 405 897

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3 Comments

  1. Posted Julho 14, 2012 at 5:41 pm | Permalink

    Partilho exactamente a mesma opinião sobre o Portucale!
    Temos gostos semelhantes, parece-me 😉
    Babette

    • Posted Julho 15, 2012 at 1:47 am | Permalink

      Isso é bom Babette significa que temos bom gosto =) lol

  2. Posted Julho 17, 2012 at 10:38 pm | Permalink

    Como diz o outro: “gostos não se discutem… lamentam-se !” 😉
    Babette

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