IV Almoço dos Vinhos de Colares no histórico Palácio de Seteais

Seteais - 11Palácio de Seteais

O Palácio de Setais (sobre o qual a Cíntia vos falará mais à frente) organizou pela 4ª vez um almoço, no mínimo emblemático, que serviu de lançamento à Semana Histórica da Gastronomia e Vinhos de Colares, que de 4 a 13 de Maio irá ocupar o restaurante do histórico Palácio de Seteais. Com as escolhas dos vinhos a cargo de Aníbal Coutinho, o chef António Escudeiro apresenta uma ementa no mínimo invulgar, em que são recriados pratos encontrados em menus da década de 30 e 40 servidos pela Adega Regional de Colares.

Mas vamos começar pelo início, e o que é isso de Colares? A grande maioria da população portuguesa nunca provou um vinho de Colares e outros tantos nunca ouviram sequer falar nessa região.

Seteais - 34Colares de 1969 – Viúva Gomes

Pois bem, Colares, ainda que bem pequena, é uma das regiões que mais tem crescido nos últimos 15/20 anos em Portugal, tendo passado de menos de 8 ha de vinha para os mais de 20 ha atuais. A região ocupa as lindíssimas, e caras, áreas da praia da Adraga, parte de Almoçageme e Colares, Azenhas do Mar, Fontanelas, Magoito, Casal de Pianos, praia da Samarra entre outras. Uma região que “rouba” ao mar e aos ventos as suas características tão peculiares.

Na história Portuguesa, os vinhos de Colares ganharam um forte protagonismo na época da filoxera, uma vez que as vinhas plantadas em areia não sofriam danos causados pelo insecto. Tendo vindo a sua produção a diminuir com o desenvolvimento de outras regiões, até cair quase no esquecimento, não fossem meia dúzia de produtores (literalmente) que continuam arduamente a produzir um dos mais especiais vinhos nacionais.

Seteais - 25 A Prova das novas Colheitas de Colares

 Antes do Almoço, tivemos o privilégio de participar numa prova das novas Colheitas de Colares, com a participação desses 6 produtores que abraçam toda a região: Colares Chitas, Viúva Gomes, Adega Regional de Colares, Fundação Oriente, Casal Sta. Maria, Monte Cascas.

Começamos pelos brancos em que as novas colheitas dizem respeito aos anos 2012 e 2013, algo pouco comum para o mercado de vinhos brancos, mas fácil de perceber quando se prova os vinhos e se verifica que mesmo com 4 anos são ainda jovens, cheios de vida, acidez e uma salinidade e mineralidade que nos rouba a atenção por completo.

Provou-se em 1ª mão o “Colares Chitas” 2012, um vinho com Malvasia de Colares (90%) e Jampal, Galego dourado, Arinto e D. Branca, apresentado pelo carismático Sr. Paulo da Silva, que tem dedicado toda a sua vida aos vinhos da região. O Viúva Gomes 2012, 100% Malvasia de Colares, com o seu lado salino bem presente, uma frescura ímpar, e a mineralidade e acidez que lhe vão dar anos e anos de vida. Seguiu-se um mais complexo Casal Sta Maria Doc Colares Branco 2013, 100% Malvasia de Colares, feito com recurso a barricas de 2ª utilização de Carvalho francês, resultando num vinho, complexo,  e untuoso, com a madeira a estar muito bem integrada e a desenvolver notas de baunilha e mel que se juntam ao lado floral, cítrico e, claro, às notas  de sal que caracterizam a região. Seguiu-se  Fundação Oriente com o 2013, em amostra de casco, 95% Malvasia de Colares e Arinto, que com toda a sua juventude, revelou uma ótima acidez e as notas características da região. Outro vinho com uma influência mais vincada da madeira foi o Monte Cascas 2013, 100% Malvasia de Colares, com notas bem vincadas de maça reineta e uma complexidade que impressiona. Para terminar os brancos foi apresentado o Arenae 2013 da Adeg. Reg. de Colares, 100% Malvasia de Colares, um vinho cítrico  de grande frescura e elegância.

Seteais - 28O “simpático” cenário que nos serviu de aperitivo

Nos tintos começamos por um Viúva Gomes de 2007, 100% Ramisco, com grande acidez e as notas de mar conjugadas com algum balsâmico, e taninos bem agressivos. Perfeito para guardar por uns bons anos! O Casal Sta. Maria 2007, 100% Ramisco, revelou-se um vinho já mais domado (provavelmente pelo estágio em barrica), com as notas características da casta e região, taninos marcantes e um longo final de boca. Um vinho de grande carácter! Também de 2007, seguiu-se o Arenae, 100% Ramisco, mais uma vez com as notas de compota e ginja bem presentes, a salinidade e a acidez mineral elevam o vinho, resultando num vinho fino mas austero. Seguiu-se a Fundação Oriente 2010100% Ramisco, outra amostra de casco, que promete um vinho intenso, de cor intensa e bem característico da região, e um potencial de guarda enorme. Passando ao Monte Cascas 2011, 100% Ramisco, um vinho elegante e austero, criado com 50% de engaço e 2 anos de estágio em barrica, com uma acidez ótima e um equilibro muito bem conseguido. Para beber, desde já mas com um futuro certamente surpreendente. Terminamos os tintos com um Colares Chitas, 90% Ramisco, 10% Molar e Parreira Matias. Um vinho cheio de fruta, e de taninos mais elegantes, que carrega consigo a história da marca e a capacidade de nos satisfazer hoje e daqui a 20 anos.

Finalizamos esta prova com um generoso vinho de Carcavelos, o Villa Oeiras Colheita 2004,  um vinho meio-seco de aromas a frutos secos, com um volume de boca interessante e uma boa textura que acaba de forma seca e equilibrada.

 Seteais - 27

Antes do almoço houve ainda tempo para um pequeno aperitivo, com o espumante Rosé de Stanley Ho e o Casal Sta. Maria, Malvasia 2013, a acompanhar os petiscos clássicos da cozinha do palácio, onde não faltaram rissois, polvo e canapés.

Seteais - 29

Já na mesa, foi servido um creme Diplomata (servido originalmente num menu de 1935), bem primaveril à base de ervilha e outros verdes. A acompanhar esteve um Arenae 2006, de cor amarela e aromas bastante cítricos, na boca revela alguma complexidade e uma frescura que impressiona para os seus 10 anos de vida.

Seteais - 30Creme Diplomata (menu de 1935)

Seguiu-se o Peixe, com uma Surpresa de Linguado e molho de camarão (menu de 1937), que harmonizou com o “histórico” Viúva Gomes Tinto de 1969Um vinho que nos surpreende pela sua idade e pela frescura que ainda mantém, um vinho que apetece beber e que termina  com os taninos bem domados pelos anos e algum iodo. Um grande prazer!

Seteais - 31Surpresa de Linguado e molho de camarão (menu de 1937)

Passando à carne, serviu-se uma boa Vitela Assada à moda de Sintra (menu de 1938), não parecendo muito distinta das demais  “vitelas assadas” espalhadas pelo País. No copo manteve-se um tinto, desta vez o mais jovem Colares Chitas 1996, de boa estrutura, ainda com a fruta bem presente e ótimo final.

Seteais - 32Vitela Assada à moda de Sintra (menu de 1938)

Para terminar não poderiam faltar os tradicionais doces de Sintra, com os Travesseiros, as Queijadas e as nozes de Galamares. Para fazer jus à região, acompanhamos os doces com um dos mais clássicos vinhos fortificados nacionais (também ele quase desaparecido), o Carcavelos DOC, Villa Oeiras. Um vinho de  tons dourados, de aromas a frutos secos e especiarias com uma textura e final particularmente cativantes.

Seteais - 33Travesseiros, as Queijadas e as nozes de Galamares

E assim, foi neste magnífico cenário que se deu início a uma excelente iniciativa do Tivoli Palácio de Seteais, na promoção desta tão rica e pouco explorada região vínica e gastronómica. Pelo que poderão nos próximos dias passar por lá e provar estes e outros pratos, assim como uma ampla selecção dos vinhos de Colares.

A não perder!

Tivoli Palácio de Seteais
Rua Barbosa du Bocage, 8 – Sintra
219 233 200

Fotos: Flavors & Senses 

Nota
Estivemos na apresentação da Semana Histórica da Gastronomia e Vinhos de Colares a convite dos hotéis Tivoli , sendo que isso em nada altera o nosso trabalho cuja opinião e o texto são da exclusiva responsabilidade do seu autor.

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One Trackback

  • By Tivoli Palácio de Seteais on Maio 10, 2016 at 9:11 am

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