Le Duc

Acabados de aterrar em Paris e sem reserva para o almoço de sábado, a escolha foi simples – tentar uma mesa no Le Duc, cujas recomendações e elogios da nossa querida Aiste (Luxeat) já há muito nos haviam conquistado.

Uma chamada da concierge, e 10 minutos de Uber e lá estávamos nós à porta de uma instituição gastronómica, aberta em 1967 pelos irmãos Minchelli, e que pouco ou nada mudou desde essa altura (e o bom disto tudo é que, neste caso, este é um facto mais do que positivo).  Ora vejamos, o Le Duc foi um dos primeiros restaurantes a dedicar-se em exclusivo aos produtos do mar, e foram os irmãos que durante o berço da Nouvelle Cuisine revolucionaram a forma de preparar e servir peixe, livrando um produto de primeira qualidade de mergulhos em molhos espessos, pesados e de uma cocção muito além do ponto ideal. Foram muito provavelmente os primeiros a servir peixe cru na cidade.

A decoração idealizada por Slavik (o Lázaro Violán dos restaurantes parisienses dos anos 70) remete-nos para o interior de um clássico iate de luxo, num jeito estranho de nos fazer viajar até aos anos dourados da costa sul de França.

Se o interior pode ser considerado velho, ultrapassado e completamente fora de moda, é também tudo isso que lhe dá encanto, quando passamos a porta e sentimos que estamos efetivamente a experienciar Paris, como um bom e refinado parisiense. E é isso mesmo que encontramos quando nos sentamos à mesa e em nosso redor se encontram clientes habituais, normalmente da alta sociedade francesa e da classe política, a sua maioria com um pézinho na reforma, e muito, muito poucos turistas – abençoados guias que volta e meia se esquecem de fazer justiça a verdadeiros templos de alta cozinha!  Sim , porque a alta cozinha também é subtileza, cuidado e produto de altíssima qualidade como os apresentados durante a nossa visita.

Caramujos quentes servidos como aperitivo

As boas vindas não tardaram em fazer-se sentir e a anunciar que estávamos num restaurante de peixe e marisco, Caramujos, acabados de cozer, repletos de sabor e cozinhados no ponto, a dar um bom presságio do que se seguiria. Segue-se o pão e a manteiga, não estivéssemos nós em Paris e num restaurante clássico, manteiga prensada com o nome do restaurante como mandam as regras e um ótimo pão a acompanhar, e a dificultar a concentração na leitura da carta.

Acabamos por optar pelo menu de almoço a 55€ (duas entradas, um prato e uma sobremesa), que se revelou uma ótima opção, ainda que pouco depois tenha passado algum tempo a namorar o prato de lagostins da mesa do lado – mais um bom motivo para voltar.

Tártaro de Robalo e Salmão
Servido numa pequena taça de prata, o tártaro revelou-se ainda mais precioso que a peça em que era servido. Cortes exímios, peixes de altíssima qualidade e bom tempero. É simplesmente um prato perfeito, que poderia comer todos os dias sem me cansar!

Salmão ao Natural
Um carpaccio de salmão da Escócia, simplesmente regado com um fio de azeite e alcaparras. Rico, untuoso e cheio de sabor, a mostrar aquilo que pode e deve ser um verdadeiro salmão.

Ostras 
Ostras cozinhadas ligeiramente até abrirem e ficarem mornas, regadas com um molho amanteigado e fresco, e um sabor irrepreensível. Produto, produto, produto!

Lulinhas fritas 
A perfeição pode ser algo tão simples como estes “calamares”, de fritura brilhante, textura crocante, e leve kick de picante da pimenta de espelette que contrasta bem com a acidez e frescura do limão. Viciante!

 Salmonetes e Tranches de Robalo com lima
Seguiram-se um ótimos salmonetes, que aparentavam uma cocção mais forte do que o desejado, mas que se revelaram imaculados quando degustados, deixando-nos sentir o seu sabor único, que tanto me faz apreciar este peixe.

O prato de robalo é um dos pratos clássicos do Le Duc, com finas tranches de robalo a serem cozinhadas no prato quente e regadas com um molho leve de manteiga e sumo de lima.

Dois grande pratos, muito bem acompanhados por um arroz negro de grande sabor e aipo gratinado, cuja textura e sabor se revelaram uma bela surpresa.

Baba ao Rum
Chegada a altura de escolher a sobremesa, e é ver o célebre carrinho das sobremesas a aproximar-se da mesa e a fazer-nos pensar mais do que era suposto sobre a escolha. Mas estando num clássico parisiense, a Baba ao rum era uma escolha mais do que obrigatória. Uma generosa fatia, bem regada no momento – a garrafa de rum fica na mesa para o caso de não terem colocado o suficiente. Nota alta para a textura e sabor, com um excelente chantilly.

Sim os meus níveis de álcool passaram o recomendado depois da sobremesa.

E por falar álcool, a carta de vinhos acompanha a excelência da carta (e os preços!), onde não faltam os grande vinhos franceses e em especial da Borgonha para fazer a maridagem certa com uma cozinha tão cuidada e um produto tão fino. Optamos por um Roully 1er cru de Olivier Leflaive de 2013 (50€), que se comportou competentemente com os pratos escolhidos.

O serviço é também ele clássico e afinado pelos anos de experiência, em que os elementos mais novos da equipa foram certamente bem ensinados pelas gerações anteriores.

Os sempre delicados petit four, para terminar a refeição

Considerações Finais
O Le Duc é um daqueles restaurantes que passa ao lado dos holofotes e dos media, não tem uma celebridade à frente do restaurante, nem foca parte do seu orçamento em Relações Públicas e marketing. O esquema aqui é outro: satisfazer os clientes, na sua maioria habituais, apresentando-lhes o melhor produto do mercado, preparado da forma mais simples e pura para enaltecer todas as suas características, tal como criaram os Minchelli no passado, e que hoje todos os chefes, um pouco por todo o mundo, vão recriando, mesmo sem saber quem esteve na génese de um método, que na realidade talvez seja mais uma filosofia.

Hoje a cozinha está entregue, e bem, a Pascal Hélard, que continua a traçar o futuro com todo o seu foco nos produtos e numa simplicidade estética tão apurada que se o restaurante não tivesse cerca de 50 anos parecia recentemente assinado por um mestre japonês. É seguramente um dos melhores restaurantes de peixe da cidade, e é um daqueles espaços a que recorremos como um porto de abrigo, onde a tradição ainda é o que era e o produto é quem mais ordena!

Agora só me resta voltar!

Le Duc
Preço Médio: 100€ por pessoa sem vinhos (menu de almoço: 55€)
Boulevard Raspail, 243 – Paris
+33 1 43 20 96 30 

English Version

Fotos: Flavors & Senses

 

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