DOP – Rui Paula (revisitado)

Não é norma do blog escrever um artigo sobre um espaço já publicado, no entanto depois da última visita feita ao DOP, o restaurante Portuense do chefe Rui Paula, vejo-me forçado,no bom sentido, a escrever outro artigo. O DOP é desde a sua origem um dos principais emblemas gastronómicos de luxo da cidade, um edifício emblemático, uma boa decoração e um fantástico serviço de louças, talheres e copos.

Numa noite de final de semana com casa cheia, numa mescla de turistas e habitué’s do espaço, a refeição iniciou-se com um amuse buche, Alheira numa interpretação de trufas pretas, ou seja, um simples mas saboroso e esteticamente bem conseguido croquete de alheira com tinta de choco que facilmente recriava as trufas, pena o seu cheiro não estar presente no prato. Os pães caseiros de excelente qualidade, azeitona, tomate e picante, transformaram-se em pequenos e viciantes delitos enquanto aguardávamos as entradas.

Da actual carta seleccionamos para entrada a famosa Francesinha (14€), carne barrosã de excelente qualidade, bom queijo mozzarela e um molho sem excepções feito com o rigor de uma alta cozinha. Sem dúvida uma excelente opção para entendidos ou não, no célebre prato da cidade. O Carabineiro e sua  feijoada (19€), o ponto do marisco era irrepreensível, perfeito, a feijoada de aromas e sabores delicados onde sobressaía o fantástico sabor da cabeça do carabineiro. Um Must. Ravioli de Sapateira (18€), massa al dente à base de tinta de choco com boa textura e sabor,recheada com  a carne de sapateira e infelizmente algumas cascas, um erro que felizmente deixou todos os dentes inteiros. No que ao sabor diz respeito, muito bom, sem os molhos se sobreporem à sapateira, cozinhada no ponto. Os legumes (16€), panóplia de legumes baby, cozinhados na perfeição, bem acompanhados por presunto pata negra, ou como gostam de mencionar, aquele que é provavelmente o melhor presunto do mundo, o presunto pata negra. Uma entrada esteticamente apelativa com um ótimo jogo de sabores e texturas. Alias é na estética dos pratos que a refeição se mostrou um dos pontos mais elevados. A equipa, liderada por Rui Paula, tem agora um sentido estético muito mais apurado,  tornando cada prato único e cativante, pena a máquina fotográfica ter tirado folga neste dia!

Mas, continuando a refeição depois das boas notas dadas pelas entradas, seguiram-se os pratos principais, o Rodovalho (29€), filete de peixe com puré de ervilhas, ervilha fresca, presunto pata negra e uns falsos gnocchis. O peixe mais uma vez cozinhado no ponto, o puré de ervilhas delicioso e a harmonizar bem com os restantes elementos e molho do prato. Menos conseguidos os gnocchis que pouco acrescentaram. Sem dúvida uma óptima opção nos peixes. O Bacalhau (28€), em jeito de trilogia , entre bacalhau fresco e salgado, esferificação de caldo de bacalhau envolta em couve portuguesa. Os pontos do bacalhau mais uma vez estavam perfeitos, boa combinação de texturas do mesmo peixe e bons sabores no conjunto de todo o prato, no entanto considero que lhe faltava  uma nota especial, que a esferificação ainda que boa não conseguiu.

Nas Carnes as opções foram para os clássicos transmontanos, O Cabrito, o cordeiro e o Terrincho (29€), acompanhado por caneloni de batata aromatizado com trufa, cogumelos selvagens e legumes baby. As carnes combinaram na perfeição, pontos e sabores delicados, o queijo, ralado e sob a forma de espuma, marca presença sem se sobrepor. Uma reinterpretação de comidas tradicionais que é onde Rui Paula se sente e se mostra melhor. O Leitão (29€), servido  com cachaço de porco bísaro a baixa temperatura, molho de cidra, lagostins do rio, batata em galette e um fantástico puré. O leitão estava perfeito, fina camada de carne suculenta e pele mais que crocante. Todos os ingredientes se conjugaram bem, com excepção dos lagostins, apenas a servir para a combinação terra mar que aparentemente o chefe aprecia bastante. De negativo apenas o cachaço, cozinhado durante horas a baixa temperatura esperava-se algo que provavelmente a finalização do prato a tenha destruído, sem permitir que se revelasse toda a suculência da carne.

No que à doçaria diz respeito, as nossas viajaram entre o clássico e o mais inventivo e inspirado. Enquanto se aguarda surge a pré-sobremesa, Sopa de frutos vermelhos com iogurte, que serviu o seu propósito mas que deveria ser mais um shot do que propriamente um prato de colher. Chamuças de queijo Chevré (13€), servidas com requeijão, doce de abóbora e gelado de leite de amêndoa. Sabores clássicos e muito bem reinterpretados. O chocolate e o vinho do Porto (17€), camadas de bolo de chocolate e bolacha com cobertura de chocolate, framboesas, merengue caramelizado e gelado de vinho do porto. Uma boa sobremesa que sem um grande destaque cumpre bem as suas funções. Dacquoise de Amêndoa (15€), um pouco alterada do clássico numa interpretação do bolo francês, Opera, com camadas de buttercream de café e gelado de leite de amêndoa. Um bom doce, que deveria ter camadas mais uniformes mas onde o sabor não desiludiu.

Viagem ao Pacífico (15€), parfait de coco  terra de chocolate, mousse de chocolate, fava tonka, manga e creme de verbena. O mais elegante e bem apresentado prato da noite, assentou perfeitamente naquilo que se prometia e foi uma deliciosa mistura de sabores e texturas.

A carta de vinhos continua a ser o que era, meticulosamente organizada e com opções para todos os gostos e carteiras. Acompanhamos a refeição com um ótimo Alvarinho Soalheiro 2011.

O serviço foi onde notei a maior diferença, se antigamente o serviço de sala era de boa qualidade, com erros pontuais normalmente de estagiários menos bem formados,  desta vez conseguiram roçar a perfeição e ouso facilmente dizer que é provavelmente o melhor serviço de sala da cidade neste momento.

Considerações Finais
É bom ver que um chefe famoso como Rui Paula, goste-se ou não, não ficou parado naquilo que lhe trouxe fama. A sua cozinha está hoje mais interessante e cativante mantendo as bases tradicionais, os seus pratos  estão mais trabalhados e esteticamente muito mais apurados. As espinhas, ou neste caso a casca de sapateira continua a ser a “pedra” no sapato, ou melhor, no prato. Um erro que não deveria acontecer. O preço já era e continua a ser o grande senão do DOP, não é de todo um restaurante acessível, mas é ideal para um dia especial em que se possa esquecer o Gaspar e a Troika.

DOP – Rui Paula
Palácio das Artes, Largo de S. Domingos, 18, 4050-545 Porto
22 201 43 13

Nota
Podem consultar o 1º artigo do DOP, Aqui.

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