Leopard Safaris

O Sri Lanka estava a ser uma das viagens da nossa vida. Cultura, natureza, aventura eram o mote desta viagem e, por isso, uma estadia no meio da selva não podia faltar!
A escolha recaiu sobre o Leopard Safaris, com este nome, a estadia prometia!

O Leopard Safaris situa-se praticamente no Parque Nacional de Yala, e como queríamos muito visitar este parque, este seria o local ideal para ficar.
Foram duas noites hospedados literalmente no meio da selva e em comunhão total com a natureza. Não se trata dum hotel, mas sim duma espécie de acampamento de luxo no meio da natureza.

Obviamente o nome Leopard captou a minha atenção num instante, lembram-se da minha paixão no Kruger Park no &Beyond Ngala Se ainda não leram sobre essa viagem, aqui está o artigo.


O Leopard está dividido numa zona comum, um espaço de sala estar, bar e biblioteca, cuja decoração se envolve nas cores da natureza e nas texturas da selva, junto a esta zona temos uma agradável piscina e zona de relaxamento, e depois próximo, uma espécie de casa de árvore subtilmente envolvida no ambiente natural do verde que reina em todo o espaço.

Ao longo de todo o complexo estão distribuídos os quartos e pequenas casas de família. Falando em família, o staff só aconselha a estadia com crianças acima dos cinco anos de idade.


Ficamos numa tenda constituída por um quarto e uma casa de banho incrível. Tenda não será bem o nome para o que podem ver na fotografia, e a verdade é que já vi quartos de hotel bem menos interessantes! A entrada da tenda tinha um baloiço e umas cadeiras em madeira esculpidas que fizeram as honras dos meus fins de tarde de descanso.


Lá dentro esperava-nos todo o conforto que se pretende num bom quarto de hotel, a cama era ótima e os sons da natureza que se faziam ouvir pela noite fora tinham tanto de assustador como de entusiasmante.


No Leopard Safaris as atividades resumem-se sempre a algo relacionado com a natureza, seja pelos passeios pelo complexo, seja pelos Safaris ao Parque Nacional de Yala, seja pelos convívios em locais meticulosamente escolhidos pela equipa.

Tivemos oportunidade de fazer dois Safaris a Yala, infelizmente não vimos leopardos! A selva é muito diferente da savana, a vegetação é muito densa, e então apenas conseguimos ver os animais quando eles se deslocam pelos caminhos traçados pelo homem ao longo do parque.

Há inclusive imensas zonas do parque que não podem ser visitadas, o que também limita aquilo que se consegue ver. Mas vimos crocodilos! Não são tão bonitos, mas são bastante interessantes também! Tivemos também oportunidade ver uma série de diferentes espécies de macacos, diferentes aves, e elefantes.


As cores de Yala são únicas, o pôr do sol quando acontece mescla-se com a natureza duma forma tão única como eu nunca tinha visto. É assombroso de tão bonito!


Um dos pontos mais positivos desta estadia foi a gastronomia. A comida local que servem no Leopards Safaris foi das melhores que comemos durante a nossa viagem ao Sri Lanka. Cozinha local, produtos locais e pratos feitos por pessoas com alma!

O Leopard Safaris tem uma preocupação constante com o meio envolvente, por isso, toda a sua conduta é feita duma forma sustentável. o complexo está perfeitamente enquadrado na natureza, as cores e os materiais inserem-se e combinam-se de forma a pareceram também eles parte da selva. O uso de plástico foi banido quase na totalidade. E nenhuma arvore foi destruída aquando da construção do complexo.

Aliás, cada hóspede é convidado a plantar uma árvore! Por isso, já posso riscar da minha lista da vida: “plantar uma árvore”!


Foi uma experiência que apenas pecou pela falta de Leopardos, mas isso é algo que foge ao nosso alcance, até porque: Na selva a nossa espécie não manda absolutamente nada!

A ligação à natureza na forma mais pura e a simpatia constante de todo o staff fizeram desta estadia memorável!
Até breve Leopard Safaris!

Leopard Safaris Yala by KK Collection
Quartos a partir de 450€ por pessoa com tudo incluído
ld Katagamuwa Road Kochipatana, 01234 Yala – Sri Lanka

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Fotos: Flavors & Senses

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SRI LANKA – A religião, os chás e a selva – Parte II

Dalada Maligawa

Kandy – o coração religioso do Sri Lanka!
Kandy é conhecida como a capital das montanhas. A cidade destaca-se pela sua beleza e por ser o coração do país no que respeita à religião. É aqui que se localiza o Dalada Maligawa – conjunto arquitetónico formado por pavilhões cor de rosa com tetos vermelhos onde se encontra o Templo do Dente de Buda, o mais importante local de culto para os budistas.

Além deste, destacam-se outras construções religiosas, como o Templo de Kataragama, o Templo de Vishnu, o Templo de Pattini, o Templo de Natha Devala, assim como o Mosteiro de Asigiriya com uma interessante biblioteca e o Mosteiro de Malwata.

Mas foquemo-nos então no mais importante templo do país: The Temple of Sacred Tooth Buda Relic.
A Relíquia do Dente Sagrado é (supostamente) o dente canino direito de Gautama Buddha, o 28º Buda, cremado na Índia por volta do século V A.C., e trazido para o Sri Lanka.

O complexo do Templo é imponente mas está carregado de turistas, pois é o local mais visitado do país. É uma verdadeira azáfama de pessoas locais, de diferentes nacionalidades e também de monges! Este templo foi mandado construir em 1592 pelo rei Vimaladharmasooriya I, tendo já sido renovado, restaurado e ampliado.

Nas margens do Lago Kandy, este complexo é constituído pelo Palácio Real de Kandy, que atualmente funciona como museu, a sala de audiências da corte do Sri Lanka, onde ainda hoje são realizadas cerimónias oficiais, o Museu Nacional de Kandy, o Museu Budista, e uma zona octogonal que é atualmente uma biblioteca.

Logo na entrada percorre-se um corredor ladeado por jardins e estátuas, e logo daqui é possível admirar toda beleza do complexo.
A principal atracão – o Dente Sagrado – encontra-se minuciosamente dentro de sete objetos em forma de sinos utilizados para guardar artefactos importantes, que se encontram no santuário Handun Kunama. Este santuário, está num pátio rodeado pelos edifícios de alojamento dos monges residentes, e está adornado por uma cobertura dourada.

Supostamente esta relíquia foi retirada dos restos mortais de Buda, depois de este ter sido cremado por volta do século V AC. Séculos mais tarde foi levado para o Sri Lanka. O Dente Sagrado é venerado três vezes ao dia por vários monges – manhã, a meio do dia e ao anoitecer.

Vista a mais importante relíquia do país foi tempo de parar para almoçar. E para isso, nada melhor que comida local num mercado de locais e não de turistas!

Muito próximo ao complexo do templo há um pequeno mercado com várias especialidades do país, muito tradicional e muito autêntico. Foi o Parveen que nos recomendou, apesar de já termos lido sobre o assunto.

Óbvio, que mal chegam ao local pensam: “hummm, isto vai dar asneira, mas pronto, vamos lá experimentar!”.

Quem me conhece e lê os artigos já sabe que adoro experimentar de tudo e que fico sempre doente, mas continuo a fazer o mesmo, e na realidade, acho que vou continuar! Pois bem, eu o João partilhamos uma série de pratos e soube-nos pela vida. Gente simpática e genuína, preços baixíssimos, comida boa, e uma experiência efetivamente real!
Escusado será dizer que quatro horas mais tarde estava a vomitar a alma (mas garanto-vos que se pudesse voltar atrás, tornava a provar tudo!).

Depois do mercado fomos passar a tarde a aprender sobre Chá num dos maiores produtores do Sri Lanka – Blue Field Tea Factory que fica entre Kandy e Nuwara Eliya.

Blue Field Tea Factory

Este local é uma das fábricas de chá mais populares do país, controlando uma grande propriedade ao seu redor e produzindo chá de alta qualidade apreciado um pouco por todo o mundo. Na visita ao BlueField Tea Factory é possível passear ao longo de algumas das plantações e visitar a fábrica propriamente dita, acompanhando todo o processo de fabrico do chá. Terminando a visita na loja onde não só degustamos o chá como podemos adquiri-lo. Que obviamente foi o que fizemos!

Não percam uma visita a uma das plantações de chá e provem sempre que puderem! Digamos que o chá e as suas plantações estão para o Sri Lanka como o douro e o vinho está para Portugal!

Dia preenchido merecia um hotel histórico – escolhemos o Heritance Tea Factory com um autêntico cenário de fábrica antiga, que quase nos remeteu para a
mágica e excêntrica fábrica de chocolate de Willy Wonka! O cenário já era perfeito mas foi levado ao expoente máximo quando no dia a seguir acordamos
acima das nuvens (o hotel fica no alto de Nuwara Eliya) com o mais belo nascer do sol de sempre!

O nascer do sol mais emocionante que já vivi.

As trabalhadoras do campo de chá do Heritance Tea Factory

Ter o privilégio de numa só viagem assistir ao melhor nascer e pôr do sol de sempre é de louvar mesmo!

Há quatro dias no Sri Lanka e cada vez mais apaixonada por este país e pelo seu povo. Hoje foi dia de fazer aquela que é considerada a viagem de comboio mais cénica do mundo (que me perdoe quem disse isto, mas nunca fez a viagem de comboio pelo Douro, de certeza!). Apanhamos o comboio de Nuwara Eliaa até Ella acreditando que esta ia ser um dos highlights da nossa viagem. Mas, honestamente, não foi.

A estação de Nuwara Elyia

Adoro comboios, é provavelmente o meu meio de transporte favorito, por isso quando decidimos incluir esta viagem no nosso roteiro as minhas expectativas dispararam. O que é que eu já vos falei sobre expectativas?! Pois! Controlem-nas, sempre!!!

Os bilhetes devem ser comprados com alguma antecedência, têm a segunda e a primeira classe e todos os artigos na internet vos avisam para escolher a segunda porque a primeira tem ar condicionado e supostamente depois não deixam abrir as janelas ou ir para as portas para melhor verem a paisagem! Esqueçam!

A 1ª classe

Comprem na primeira! Que na realidade não é uma primeira classe, é igual À segunda! A única diferença é que têm um lugar para vocês onde podem pousar as vossas coisas e ir sentados quando quiserem ir sentados! Na segunda classe é basicamente o caos!

Podem abrir as janelas sim (até porque, o ar condicionado é uma ventoinha que funciona mal pendurada no teto!), podem levantar-se ir para a porta ver a paisagem, podem tudo, na realidade! A viagem num comboio normal demoraria uns 45min, neste, como vamos a 10km/h demora umas 3,5h! Quando digo 10km/h não estou a exagerar, nalgumas zonas dá para saírem com ele em andamento, fotografar locais e tornar a entrar!

Quanto à paisagem, é como vos digo, prefiro muito mais o meu Douro! Não considero que tenhamos tido oportunidade de vislumbrar as melhores paisagens do Sri Lanka. Esperava bem mais. Pensei que fossemos comtemplar aquela imagem incrível da Ponte de Nove Arcos, mas não. Talvez erro nosso na escolha do trajeto, deveríamos ter feito a viagem de Kandy a Ella, e não de Nuwara Elyia a Ella. Mas honestamente 3h30min já me chegaram, a mais longa são cerca de 7h!

Cascata em Ella

Bem, terminada esta aventura foi tempo de rumar à selva! Sim , verdadeiramente à selva! No incrível Leopard´s Safari!
Quem lê os meus artigos sabe a minha paixão por safaris e principalmente por Leopardos, se não sabem corram a ler este artigo (&beyond Ngala).

Queríamos visitar o Yala National Park e para isso não havia melhor local do que o Leopard´s Safari, muito próximo do parque. Chegamos durante a tarde e senti-me de tal forma em casa que não quis fazer mais nada nesse dia além de explorar este pequeno retiro de luxo mesmo no meio da selva!


Mas para isso, melhor lerem todo o artigo deste local mágico (aqui).

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SRI LANKA – A História Milenar – Parte I

Agora que já sabem o que precisam para viajar para o Sri Lanka vamos lá viajar por este país incrível!

O Sri Lanka é um país com uma diversidade cultural infinita.
As diferentes etnias e a imensa história fazem do Sri Lanka um local muito especial.
É o berço de uma das linhas mais antigas e puras do Budismo – o que o torna ainda mais especial para mim, uma vez que simpatizo tanto com esta religião.

Colombo, as antigas cidades de Anuradhapura, Polonnaruwa e Sigiriya – a era dourada do país – Kandy com as suas plantações de chá, o Parque Nacional de Yala, a cidade Fortificada de Galle e as praias são razões mais do que suficientes para nos apaixonarmos por este país!

Havia locais que eu tinha colocado na lista de “a não perder” – as cidades antigas de Anuradhapura, Polonnaruwa e Sigiriya, a região de Kandy, e um safari em Yala.

Um passeio pelas históricas ruínas de Polonnaruwa

Dividimos a nossa viagem por regiões.
Voamos para Colombo (que fica no Oeste) mas de lá fomos diretos para Dambulla que fica na região central próximo de Sigiriya – viagem essa que já fizemos com o Parveen que nos tinha ido buscar ao aeroporto de Colombo, e que durou cerca de 4 horas.

Comecemos pelos primeiros três dias que foram os mais atribulados a descobrir as cidades mais antigas e históricas do país!

Templo Dourado de Dambulla
Património Mundial desde 1991, este local constituído por cinco grutas com templos budistas obriga-nos a subir imensos degraus (achava eu até subir Sigiriya ou Pirudangala!) em rocha para contemplar a sua beleza.
A imagem mais imponente é o Buda deitado de 15 metros. As grutas encontram-se imponentemente decoradas com ouro e frescos coloridos com imagens religiosas.


Este templo teve a sua história marcada pelo refúgio do Rei Valagam aquando da sua expulsão de Anuradhapura. Após o seu regresso ao trono mandou transformar o local num templo sagrado de culto.

Os principais habitantes do templo

A vista deslumbrante do Templo Dourado foi um pequeno presságio do que viria a ser o resto da viagem

Daqui, e bastante exaustos da viagem, decidimos seguir para o hotel onde ficaríamos nas primeiras noites, o Jetwing Lake Dambulla Sri Lanka.

O por do sol na piscina do Jetwing

No dia a seguir começamos bem cedo pela aventura de fazer as duas cidades antigas – Sigiriya e Pollonnaruwa.

Começar o dia a subir cerca de 700 degraus é só doentio, certo? Mas foi precisamente o que nós fizemos!

Lion´s Rock em Sigiriya
As ruínas do Palácio de Sigiriya, no topo da Lion´s Rock, são a maior atração do país. Caminhar por jardins que já foram um imenso complexo de distribuição de água e uma autêntica cidade e um palácio que só é acessível a quem se dispuser a subir mais de 700 degraus.
Este reino surgiu no século V, no topo de uma rocha de 375 metros de altura.

O rei no seu castelo

O terrível Kassyapa matou o seu pai para tomar o poder. Governou o reino por 18 anos, mas obviamente, teve que se refugiar num lugar de difícil acesso para não ser capturado e morto. E então decidiu fazer um palácio quase a tocar o céu! Este histórico e incrível complexo tem a forma de um leão, daí o nome.
Logo na entrada podemos ver as patas gigantescas do leão.


Mas depois do desafio de chegar ao topo da rocha por umas escadas íngremes e rudimentares ficamos em modo perplexo tamanha é a beleza.
Na realidade, o Sri Lanka é de todos os países que já visitei o que tem as vistas mais impressionantes.
Como é possível há 2500 anos atrás terem a capacidade de construir um complexo no topo duma montanha com aquela grandeza e imponência?


Mesmo antes de chegarmos lá em cima temos planície a perder de vista, adornada com estátuas entre a vegetação.
No topo da rocha restam apenas os vestígios daquilo que um dia foi um grandioso e insano complexo com jardins, fontes, piscinas reais, palácio e templos. Obviamente este complexo é Património Mundial da Unesco.

Daqui seguimos para Pollonnaruwa.

Pollonaruva é um conjunto arquitectónico inundado por palácios, pontes, salas de reuniões, banhos reais, mosteiros, diversos templos e numerosas estátuas de Buda.
É Património Mundial da UNESCO desde 1982.

Dica: levem havaianas, alpercatas ou sandálias rasas fáceis de tirar. Sempre que entrarem em solo sagrado têm que se descalçar.
Levem também ombros e pernas tapadas. Como aquando da viagem a Bali tínhamos comprado uns Sarongs lindíssimos, pusemo-los na mochila e usamo-los sempre.

Este complexo é enorme, constituído essencialmente por ruinas, mas que se percebe na perfeição uma cidade imponente e altamente organizada de outros tempos.

O ideal para visitar Pollonnaruwa é de bicicleta ou como nós fizemos, com motorista. Isto porquê? Porque o complexo é gigantesco e até mesmo o local de venda de bilhetes é extremamente longe do complexo em si!

Visitamos o Palácio do Rei Nishshanka Malla que fica junto ao Lago Bendiwewa, rodeado de jardins exuberantes, mas fora do complexo arqueológico de Polonnaruwa.

Palácio do Rei Nishshanka Malla
Visitamos também o Palácio Real, no extremo sul das ruínas e os seus incríveis frisos esculpidos na pedra com magníficos relevos de elefantes.
O que mais gostei, e não me perguntem porquê, foi o Quadrilátero Sagrado de Polonnaruwa. Trata-se de um grupo compacto de ruínas localizado numa pequena elevação de terreno, rodeado por um muro.

Quadrilátero Sagrado de Polonnaruwa

Este complexo é enorme e demora umas boas duas horas a visitar.

Apesar da loucura do dia, e do cansaço, e como achamos piada ao facto de começar o dia a subir 700 degraus, decidimos terminá-lo da mesma forma e fomos para aquele que foi das nossas maiores surpresas e desafios nesta viagem.
A montanha de Pidurangala!

Pidurangala

Não faz parte dos roteiros comuns do Sri Lanka, mas além de já termos lido sobre as vistas de cortar a respiração sobre Sigiriya, o Parveen disse-nos que era imperdível para o melhor por do sol das nossas vidas.

A parte fácil da subida

Não sendo ponto de paragem habitual, há pouquíssimos turistas a visitar, o que é ótimo, pois torna-se uma experiência única.

À entrada paga-se um preço simbólico, pois na realidade, além desta formação rochosa, o local alberga um templo com uma estátua de Buda reclinado. O foco não era de todo o templo mas o topo da montanha e aquele que seria o melhor pôr do sol da minha vida.

 

O Parveen fez connosco todo o caminho, o que nos deu alguma segurança, uma vez que eu não sabia que, na realidade, o trajeto era bem complicadinho!
A primeira parte é constituída por umas escadas bem irregulares, rochosas e nitidamente feitas pelo uso secular. Já não são escadas fáceis mas são facilmente escaláveis!

Não podíamos facilitar pois a hora do pôr do sol aproximava-se e a montanha ainda demora a ser percorrida, principalmente se vierem outras pessoas a descer (só existe um caminho e não é assim tão espaçoso).

Estava a ser uma sensação incrível, mergulhar na densa floresta sem saber muito bem o que nos esperava. É que na realidade aquilo não tem propriamente um roteiro. Como vos disse, não é um local que faça parte dos habituais espaços a visitar, razão pela qual nada está organizado nesse sentido. É feito sob a responsabilidade de cada um. Acredito que o facto de fazer 36 anos nesse dia enalteceu a experiência!Ao longo do caminho encontramos uma pequena cave onde repousava outro Buda reclinado, em tijolo.

Já na parte final da subida me apercebo que não sabia ao que ia, definitivamente! Pois, uma coisa é subir degraus sinuosos e difíceis, outra bem diferente é escalar rochas graníticas!!!
Até sou uma pessoa que faz ginásio com uma certa regularidade, mas aquilo era bem exagerado, além dum tanto ao quanto perigoso! O facto do Parveen ir connosco fez um grande diferença.

Dica: usem sapatilhas e roupa confortável neste dia! Vão precisar!

 A vista sobre Sigiriya

Mas, na realidade, viam-se crianças a acompanhar os pais, por isso, se elas conseguiam eu também conseguia! Assumo que na última rocha a coisa não foi fácil, mas tive a ajuda doutros turistas que já se encontravam no topo e me puxaram.

Mas… mal percebi a dimensão do que se via do cimo de Pidurangala, todo aquele esforço se desvaneceu num ápice. Dum lado Sigiriya, e a toda a volta apenas verde, muito verde, muita floresta, muita natureza. O céu estava perfeito, o sol estava quase a pôr-se, e aquele momento foi, indubitavelmente, um dos mais perfeitos da minha vida.

Um momento único!

Esse dia terminou duma forma exímia! Era tempo de descansar porque no dia seguinte o tempo seria igualmente preenchido!
Ficamos apenas 10 dias no Sri Lanka, se podíamos ter ficado muito mais? Podíamos, mas como já vos disse, temos uma clinica para gerir, e isso limita-nos um pouco o tempo.

Mas 10 dias foram imensamente aproveitados. Faz-me sempre alguma confusão quando ouço algumas pessoas a dizer:
”ah, só por 8 dias nem vale a pena ir para tão longe, essas viagens são de três semanas no mínimo. Só por isso é que nunca fui para esse tipo de países!”
Convençam-se duma coisa: o tempo é o mínimo dos vossos problemas! Se tenho possibilidade de viajar e ser feliz por 10 dias, não vou fazê-lo porque deveria ir três semanas?
Quem usa isto como argumento não gosta de viajar nem nunca vai fazê-lo, mas adora emitir a sua opinião sobre o assunto!

Com a região antiga e histórica do país vista foi tempo de aligeirar a viagem e rumar a Kandy!

Versão Portuguesa

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Sri Lanka – tudo o que precisam de saber antes de viajar

Sigiriya

Este artigo terá um lugar bem especial no meu mundo, neste novo mundo pós Covid-19. A última aventura, ou melhor, a última aventura em formato de viagem!

O Sri Lanka sempre foi um daqueles destinos de sonho. Fazia parte do meus planos de viagens à Ásia desde que me recordo (felizmente, desse plano já só falta: Camboja, Vietname, Laos, Myanmar, Japão, Filipinas… ok, vamos parar!).

Começamos a preparar esta viagem quase no final de 2019, numa altura em que estávamos a viajar por Paris e por Istambul (tenho esta mania doentia de preparar os próximos destinos ainda a fazer a viagem anterior!). E ponderávamos Março para a fazer, mas nessa altura já a clínica está com uma agenda incontrolável (sim, a nossa vida não é só viajar, temos uma clínica médica que nos dá tanto de amor quanto de trabalho árduo). Por isso, e ainda bem, decidimos viajar no final de Janeiro na altura do meu aniversário.

Em Março já o caos estava instalado no mundo inteiro… e o resto da história já todos sabem!

Mas, foquemo-nos no Sri Lanka e esqueçamos agora esta Pandemia que mudou as nossas vidas, estamos em 2022 e o mundo começa agora a dar sinais de um modesto regresso à normalidade – seria melhor se alguém não tivesse decidido iniciar agora uma guerra…


A vista deslumbrante de Nuwara-Eliya

Breve História

A história do Sri Lanka conta com pelo menos 3000 anos, com evidências de assentamentos pré-históricos que remontam a 125 mil anos. A excelente localização geográfica e os seus portos fizeram do Sri Lanka um ponto estratégico importantíssimo desde a antiga Rota da Seda até à Segunda Guerra Mundial. Dizem os registos que no século VI a.C., o povo Cingalês (ou sinhala) migrou para a ilha vindos da índia. Antes disto a ilha teria sido ocupada por Malaios.

Vijaya terá sido o primeiro rei cingalês, em 543 a.C. e o primeiro reino do Sri Lanka terá tido a sua capital em Anuradhapura. Já no século III a.C., os cingaleses converteram-se ao Budismo e a ilha passou a ser um centro de estudos e de trabalho missionário budista. Esta conversão religiosa terá sido a principal causa de separação entre o Sri Lanka e a cultura do sul da Índia.

Anuradhapura permaneceu como capital do reino cingalês até o século VIII, quando foi substituída por Polonnaruwa.

Algumas das ruínas de Polonnaruwa

Do sul da Índia chegaram à ilha os Tâmeis dando início a intensos conflitos com o povo cingalês a partir do século III. Durante boa parte do primeiro milénio, a ilha foi controlada por vários príncipes de origem Tâmil. Mas no século XII um dos mais importantes reis cingaleses, o Prakrama Bahu, derrotou os tâmeis, unificando a ilha sob o seu domínio.

No século XV, a ilha foi atacada pela China e, durante trinta anos, os reis locais prestaram tributo ao imperador chinês.

Também os portugueses, como sempre, tiveram um papel preponderante na criação e desenvolvimento deste país, e muita da nossa história ainda se sente nalgumas zonas do Sri Lanka bem como na sua língua.

Fomos os primeiros europeus a lá chegar, em 1505 e fundamos a cidade de Colombo em 1517, levamos connosco o Cristianismo mas a partir de 1600 acabamos por ser derrotados pelos holandeses que se uniram ao povo maioritariamente Budista que nos odiava! Entretanto quase já em 1800 os britânicos ocuparam o Sri Lanka e introduziram o cultivo do chá, do café e da borracha. Esta ocupação inglesa manteve-se  até 1948, quando o Sri Lanka se tornou independente,  deixando a sua marca no dia a dia do povo bem como na sua cultura.

Seguiu-se novamente uma Guerra Civil de 1983 a 2009 entre guerrilheiros Tâmil e o exército Cingalês.

Atualmente o país atravessa um bom período de desenvolvimento e paz (pelo menos até ser assolado com esta Pandemia).

As agitadas ruas de Kandy

Como chegar até ao Sri Lanka, o que é necessário levar na mala , e como se deslocar lá:

Para viajantes portugueses saibam que não há nenhuma vacina obrigatória, óbvio que já terem tomado a da Hepatite A, B, Raiva, Febre Tifóide e Encefalite Japonesa pode ser interessante. Nós já viajamos um pouco pela Ásia por isso já tínhamos a maioria. Para viajantes de locais com risco de transmissão de Febre Amarela é obrigatório a toma desta vacina.

Quanto à Malária, o risco de contrair é extremamente baixo.

Mas, aconselho a fazerem a Consulta do Viajante cerca de um mês e meio antes da viagem (procurem a Dra. Sandra Xará na Uffizi Clinic).

Os Habitantes mais famosos de Sigiriya

Não esquecer em caso algum:

  • Repelente – para quem como nós fez Safaris e andou pelas plantações de chá, é de extrema importância o uso dele.
  • Protetor Solar – usem e abusem mesmo que não andem pela praia, até porque o clima é bastante diferente do de Portugal!

Por falar em clima,  o Sri Lanka tem dois tipos de monções, uma que atinge a região norte e o leste do país vindas do nordeste entre Outubro e Janeiro e outra vinda do sudoeste que atinge o país entre Maio e Agosto ao longo da costa sul e oeste.

Por isso, a melhor altura para viajar é de meio de Janeiro a meio de Abril.

Roupa/calçado:
Confortável e fresca. Não levem demasiada roupa, organizem-se por dias e repitam algumas peças conjugadas de forma diferente, é muito cansativo andarem com uma mala cheia de um lado para o outro – sim, porque se vão ao Sri Lanka não se fiquem só por uma zona.

Relativamente aos locais de visita no Sri Lanka, nomeadamente os templos, requerem uma roupa que respeite os costumes e tradições, ou seja, para poderem entrar nos locais religiosos têm que usar calças ou saias compridas, pelo menos que tapem os joelhos, e no caso dos homens calças ou calções também compridos. No que diz respeito às camisolas, estas devem tapar os ombros, e a barriga, quer nas mulheres quer nos homens.

Quanto ao calçado, o ideal é também ser confortável, ténis continuam a ser a opção mais adequada. Nos templos têm que se descalçar antes de entrar, por isso, nesses dias, usem algo mais prático, umas sandálias, havaianas, ou alpercatas, por exemplo.

Fármacos:
Protetores gástricos e fármacos para a diarreia. A gastronomia é bastante condimentada e picante, o que pode alterar toda a vossa função gastrointestinal.
Anti-histaminicos, anti-inflamatórios ou até um antibiótico de largo espectro (sim, sou um bocado paranóica, é o que faz ser profissional de saúde!).

E por fim, Guronsan e Chollagut – para curar as ressacas!

Primeiros socorros:
Não custa nada sermos prevenidos!
Levem curitas, para as bolhas que vão surgir por andarem muito, levem soro fisiológico, umas compressas e adesivo, assim, qualquer ferida pequena que façam, podem lavá-la e aplicar um pequeno penso.

Voos:

De Portugal voamos com a Qatar Airlines fazendo escala em Madrid e em Doha, chegando depois a Colombo, o voo levou cerca de 11 horas no total. Para viajantes do Brasil, a Emirates é uma das melhores opções, fazendo escala no Dubai. Mas de diferentes pontos do globo voam as mais variadas companhias para Colombo.

Não se esqueçam – passaporte com validade de 6 meses.

O Visto podem pedi-lo online no site www.eta.gov.lk , na altura em que fomos o país estava a oferecer gratuitamente o visto no sentido de promover o turismo.

Uma das celebridades que encontramos durante um safari

Transportes no Sri Lanka:

Façam um favor a vós próprios e contratem um motorista!

O Sri Lanka não é grande, mas tudo fica imensamente longe quando as estradas são uma lástima! Um trajeto que facilmente demoraria 30min passa a demorar 3 horas ou mais!

Contratamos o Mr. Parveen Mendis (sim, tem origem no nome português Mendes) que foi incrível. Tem uma espécie de empresa com vários motoristas/guias e uma pequena frota de carros –  www.tourguideinsrilanka.com . O Parveen é também guia turístico e ajudou-nos a organizar e estruturar toda a nossa viagem. Andou connosco os 10 dias e ficava a dormir nos alojamentos próprios para motoristas próximo dos hotéis onde ficávamos hospedados. Ajudou-nos a fazer e vivenciar em viagem o que fazia sentido e desmistificou o que não fazia. Fez connosco a maioria dos trajetos mais aventureiros para que nós fossemos com mais segurança e para que pudéssemos perceber os detalhes que só os locais conhecem.

Na altura pagamos um total de 500€ pelos 10 dias de viagem, o que fazendo bem as contas foi super acessível, tendo em conta que incluía o carro, a gasolina gasta, e todo o acompanhamento. Andou connosco desde o momento em que aterramos em Colombo até ao momento em que nos despedimos do Sri Lanka.

Galle

Mas vamos agora ao que interessa: o que visitar no Sri Lanka?

Fomos apenas 10 dias, muitos mais precisaríamos para ver tudo o que queríamos. Os nosso amigos Eshan e Anika que conhecemos em 2018 na África do Sul são do Sri Lanka e já nos disseram: “têm que voltar, ficou tanto por ver e fazer!”

Voltaremos certamente! Mas agora leiam o nosso próximo artigo e vejam de que forma organizamos os nossos 10 dias pelo Sri Lanka.

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Osteria Gucci*

Cor e séculos de história nas paredes da Osteria Gucci*

Imagine um sítio onde gastrónomos, historiadores e fashionistas possam coincidir na mesma sala… esse sítio é a Osteria Gucci! O restaurante que nasce da junção da marca fiorentina ao nome mais alta da gastronomia italiana, Massimo Bottura, está instalado em plena praça della Signoria, no Gucci Gardens.
O suposto jardim não é mais do que o museu da marca e um mergulho no génio de Alessandro Michele, o director criativo da empresa, onde não faltam plantas, animais, padrões, muito charme e muita loucura ao qual se juntou também um restaurante de assinatura que vive e respira do mesmo rasgo criativo.

Sobre a decoração não há muito que se possa dizer, tudo está colocado na medida certa, no sítio e na dose certa. De destacar os brasões esculpidos que fazem parte da história da cidade e a sala privada onde tivemos o privilégio de jantar. Como seria de esperar nenhum detalhe é deixado ao acaso, dos menus às loiças criadas especificamente para o restaurante e cuja vontade é trazer todo o serviço para casa.

Ao leme do restaurante está Karime Lopez, uma mexicana com predicados que nos garantem, que aqui não estaremos num restaurante sem chef nem alma. A sua carreira levou-a pelo mundo, de trabalhar ao lado de Santi Santamaria ao Noma, passando por Mugaritz, Ryugin, Pujol e claro a Osteria Francesca, e é um pouco disso que vamos encontrar no seu menu de influência toscana, onde não falta espaço para algumas das suas criações .

gougères

Já instalados começamos por um uns ótimos gougeres para abrir o apetite, em que as notas umami do pó de tomate elevaram a pequena delicadeza.

Salumi – Culatello, spalla cotta, mortadella, stroighino
Uma daquelas seleções de enchidos e fumados às quais é impossível resistir. Produto criteriosamente selecionado, bem cortado, à temperatura ambiente e acompanhado por uma ótima escolha de pães, com destaque para os longos e viciantes grissinos. Um início sem criatividade como se espera, mas com muito sabor e a demonstrar muito bem o que é a osteria.

Pollockricotta, acelga, tomate e pimento
A técnica que imortalizou Pollock e as combinações de cores e disposições que sempre surpreenderam nos pratos de Bottura, aqui num raviolo de ricotta e acelga coberto com molhos dos restantes vegetais e um pouco de béchamel para ligar todos os elementos. Belíssimo e saboroso.

Tortellini em creme de parmigiano reggiano
Um clássico de assinatura do chef e por ventura o mais tradicional dos pratos do menu. Massa perfeita, bom recheio e molho rico, suptuoso mas simultaneamente delicado. Daqueles pratos que podemos comer todos os dias sem nos cansar-mos.

Vieni in Sicilia con Me – risotto, tomate e gamba vermelha
Provavelmente o melhor e mais bem executado prato da noite a par com os tortellinis. Risotto irrepreensível, cremoso e al dente sem excessos, gamba de boa qualidade e crua como mandam as regras. Tudo aprimorado com as notas de tomate e ervas colocadas em pó.

Dá para servirem todos os risottos por esse mundo fora assim?

Emilia Burger – chianina, cotechino, parmigiano reggiano, salsa verde e maionese balsâmica
Burger feito da combinação de chianina com a salsicha cotechino, acompanhado por diferentes molhos e pão brioche. Bom e delicado burger, mas ainda não nos traz a felicidade de um burger simples como o do Curb (quem nos segue no instagram sabe ao que me refiro).

Purple rain
As sobremesas trazem à mesa elegância máxima, ou não estivéssemos nós numa casa de alta costura. Mousse e sorvete de alfazema combinadas com diferentes texturas de coco. Fresco, leve, delicado e com sabor como se pretende de uma boa sobremesa.

Charley’s Sandwich
Uma sobremesa criada para o Charley, filho de Massimo, que muda consoante as épocas. Aqui numa típica ice cream sandwich, elevado ao estrelato. Avelã e chocolate em diferentes texturas, um apontamento de ouro e voilá. Dava para comer em quantidade…

Instalados com um pequeno grupo de amigos na sala privada o serviço decorreu de forma exemplar, sempre presentes quando necessário e com o profissionalismo que se espera da ligação de “duas marcas” de luxo.

Considerações Finais
Ao contrário de muitos restaurantes com assinatura de chefs estrelados que se limitam a dar rosto e assinatura da carta, faltando quase sempre a alma e pulso, aqui respira-se o mundo de Bottura e algumas das suas receitas mais clássicas como os tortellinis, mas a cozinha é de Karime Lopez, que com o seu jeito peculiar de combinar texturas e de dar elegância às tradições culinárias que não são suas, fazem deste Osteria Gucci muito mais do que uma sucursal. É um restaurante válido por si só, tão válido que em pouco mais de 1 ano ganhou a sua primeira estrela michelin e espalhou-se pelo mundo com novos restaurantes nos EUA e Japão.

Obviamente a combinação de Bottura e Gucci tem um preço, pelo que não se pode esperar uma refeição em conta como em muitos dos grandes clássicos fiorentinos, no entanto está longe de ser apenas mais um espaço para ver e ser visto. Aqui  a combinação gastronómica e o lado fashionista é feita em harmonia, satisfazendo a todos de igual forma, até o gastrónomo com alma de Anton Ego.

Osteria Gucci
Preços a partir de 75€ – (sem vinhos)
P.za della Signoria, 10 – Florença
+39 055 062 1744

English Version

Photos: Flavors & Senses e *divulgação

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Casa Marcelo

Quando falamos de alta cozinha galega há alguns nomes que normalmente saltam à primeira vista, raramente o nome que ouvimos é o de Marcelo Tejedor, ainda que seja ele, muito provavelmente, o “padrinho” de toda uma nova geração de chefs e restaurantes de refinado apuro gastronómico.  Formado junto de Juan Maria Arzak, Jacques Maximin, Paul Bocuse e Alain Ducasse, foi em 1999 que voltou a Santiago e iniciou a 1ª das suas revoluções. Ora vejamos,  na sua primeira roupagem a Casa Marcelo aparecia como um restaurante gastronómico, de cozinha aberta para a sala onde os cozinheiros eram muitas vezes os elementos da sala, a isso juntou-se uma única opção, um menu de degustação – ao leitor parecerá algo simples, que se vê um pouco por todo o lado mas em 1999 era disrupção ao mais alto nível!

Quis a história, a crise, e um cérebro inquieto que em 2013 Marcelo instalasse outra revolução no seu projecto, o restaurante deixaria de ser gastronómico, deixaria de trabalhar segundo padrões da crítica e das estrelas Michelin  e tornar-se-ia um gastrobar, informal, centrado no cliente e numa oferta de uma moderna cozinha galega em formato de tapas.

O sucesso imediato e a cozinha de rara sensibilidade de Marcelo e do seu braço direito Martín Vázquez, fizeram com que o guia vermelho esquece-se todas as suas exigências (pelo menos na versão portuguesa…) e lhe devolvesse a estrela michelin que tem mantido desde então.

Mas passemos à noite desta nossa visita, instalados em plena cozinha (todo o restaurante é um open space, pelo que tanto podemos ficar na corrida mesa vermelha, como em diferentes secções do espaço) e com a honra de ter o Martín como cicerone, rapidamente optamos por ficar nas mãos da equipa e ir medindo a fome ao longo do jantar.

Para começar não há melhor forma do que com pão, e que pão! Este que há anos produzem diariamente na cozinha da Casa Marcelo é perfeito a todos os níveis e vale a pena a visita apenas por ele – eu teria saído feliz com um saco debaixo do braço.

Ostra Peróla Negra, pimento padrón
Uma ostra de rara delicadeza aqui casada com um molho de pimento padrón e um óleo de especiarias que logo nos mostra a tal fusão de sabores e culturas que a cozinha de Marcelo tanto apregoa.

Tiradito de Robalo, Aji Amarillo
Produto galego, influência peruana, num fantástico tiradito cujo molho apetecia trazer em frascos, dado o equilíbrio de acidez com notas picantes.

Salada de Tomate cereja, pepino
Um clássico do restaurante, que tem conhecido várias versões ao longo dos anos, e que da aparente simplicidade apenas tem isso mesmo, a aparência. Tomate sem pele, pepino em granizado e um molho secreto que liga todos os elementos numa bela conjugação de doçura e acidez. Perfeito!

Har-gao de gambas al ajillo
Aqui começam as primeiras amostras da influência asiática na cozinha de Marcelo, experiências tão bem conseguidas que o levarão a abrir mais recentemente o restaurante Mr.Chu. Voltando ao nosso Har-gao o primeiro a chegar à mesa, veio ligeiramente colado ao prato, perdendo-se alguma da massa e por isso a sua plena sensação em boca. Apercebendo-se disso, chegou rapidamente um substituto, esse sim, brilhante! Camarão no ponto, notas vincadas da cozinha espanhola e uma massa de dim sum como nunca encontrei num restaurante que não fosse comandado por asiáticos.

Sardinha Assada, ratatouille
Mais um clássico da casa, e um daqueles que apetece comer às dúzias. Para mim durante os santos populares, podiam vir assim mesmo, perfeitas na textura, enriquecidas pelos legumes e com uma base crocante para pegar, tricar e sentir. Será pedir muito?

Poke de choco
Choco ligeiramente cozinhado sobre a sua tinta e arroz de sushi. Arroz de boa qualidade, num conjunto saboroso, mas onde a textura do choco não demonstrou o melhor de si. Não tendo qualquer erro foi o prato menos marcante do jantar.

Sargo Assado, pak choi
Mais uma vez a combinação perfeita de produto galego e sabores da Ásia, com recurso apurado à grelha, deixando o peixe sensível e delicado casado com um molho que nos fazia lamber os dedos (tudo que se pretende de um molho).

Bife Tártaro
Quem não gosta de bife tártaro nunca provou o da Casa Marcelo, e quem provou, dificilmente lhe encontra adjectivos. Tem tudo que se possa pedir, e quem me conhece sabe o quanto gosto de um bom bife tártaro!

Poke de Toro picante
Ao contrário do poke de choco, aqui nada falhava – ótima a barriga de atum com a sua gordura a cobrir toda a boca, bem acompanhada pelas notas picantes do tempero. Daqueles que não apetece parar…

Batata-porro, gema de ovo e toucinho ibérico
Na carta desde a 1ª versão gastronómica do restaurante, a batata é cortada e prensada para parecer um alho francês, bem crocante e a ganhar uma enormidade de nuances e contrastes gulosos com a junção do toucinho e da gema. Pecados dos bons!

Cerejas estufadas, mascarpone
Podia ser um tiramisù, mas era mais interessante… A cereja levemente cozinhada fundiu-se na perfeição com a delicadeza do creme de mascarpone e as notas amargas do cacau. Muito bom!

Abacate, abacaxi e coco
Frescura, frescura, frescura, é assim que gosto de terminar refeições longas e foi assim que terminamos um memorável jantar na Casa Marcelo. Texturas irrepreensíveis, acidez, doçura e gordura no ponto certo. Equilíbrio é o nome certo para esta sobremesa!

A carta de vinhos é curta, mas com opções criteriosamente selecionadas, onde obviamente se destacam os vinhos galegos e os preços justos. Bebemos um La Pola 2016,  da Ribeira Sacra, feito à base de godello, albariño e dona branca, um vinho que não cansou e acompanhou toda a refeição com as suas nuances e estrutura.

O serviço é frenético e simultaneamente de alto profissionalismo, o que nos leva a um cenário de imersão no trabalho de todos os que rodeiam a mesa enquanto preparam algumas das iguarias a serem servidas.

Considerações Finais
Ainda bem que existem pessoas como Marcelo Tejedor, pessoas livres e com vontade de correr riscos, sem medo de opiniões ou distinções. Foi essa peculiar personalidade e o raro talento e sensibilidade gastronómica que fizeram de Marcelo um cozinheiro tão especial, provavelmente o mais especial de toda a região galega. Um fora de série que hoje nos mostra não só sabores de outras latitudes fundidos com a sua Galiza como também nos mostra que a alta cozinha não tem de ser estanque, não tem de ter padrões de serviço ou de decoração. Tem sim de nos mostrar caminhos, abrir horizontes, surpreender a cada dentada e respeitar o produto que coloca sobre a mesa.

Assim, o que precisamos é de mais Marcelos e de mais viagens como aquela em que embarcamos quando entramos por esta porta. Por aqui ficam as saudades e a promessa de um regresso. Muitos regressos!

Casa Marcelo
Preços a partir de 45€ – (sem vinhos)
Rua das Hortas, 1, 15705 – Santiago de Compostela – Espanha
+34 981 55 85 80

Versão Portuguesa

Photos: Flavors & Senses

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The Vintage House Hotel

Como sabem o Douro tem um lugar muito especial no meu coração, não me canso de o visitar e o certo é que a cada visita me apaixono mais. Voltamos ao The Vintage House no Pinhão, um lugar que me traz memórias daquelas que não queremos perder nunca.

Agora a cargo da The Fladgate Partnership (com negócios associados ao Vinho do Porto, turismo e distribuição e que conta também com mais dois hotéis – o The Yeatman e o Hotel Infante Sagres), o The Vintage House apresenta uma nova roupagem, mantendo a mesma tradição e encanto que lhe são característicos.

Uma antiga adega deu origem a um hotel de luxo com uma das vistas mais idílicas do nosso país, esta é a história do The Vintage House.

Localizado no Pinhão, e dominado por quintas e vinhas em socalcos, as varandas dos quartos do hotel presenteiam cada acordar com esta imagem de cortar a respiração.

Primeira impressão
À chegada ao hotel a receção por parte do staff foi simpática com a cordialidade certa. O check in é agora feito numa sala mais ampla, bastante cosy e com vistas sobre o rio e as vinhas. Foi-nos oferecido um welcome drink enquanto aguardávamos num dos confortáveis sofás.

área de recepção do hotel

Após o check in fomos acompanhados por um elemento do staff que nos mostrou alguns pontos importantes do hotel, nos falou da nova dinâmica e organização e nos encaminhou ao nosso quarto.

Quartos
São de vários tipos – Standard, Junior Suite, Suite Deluxe e Master Suite, todos com uma importante particularidade: as idílicas vistas sobre o rio e as vinhas!

Ficamos numa ampla Junior Suite com uma casa de banho de fazer suspirar (já sabem a minha predileção por esta divisão!). Com uns generosos 42m2 e a sua cama king size bastante confortável fez as honras duns dias de descanso.

A decoração segue o mesmo padrão do restante hotel, em estilo clássico, como numa espécie de antiga casa de família que vai passando de geração em geração.

Mas sim, nada é mais importante nos quartos do hotel do que adormecer e acordar com os sons do Douro e as vinhas como confidentes!

Almoço no restaurante Rabelo

Restaurantes
O Vintage (permitam-me que o trate como um amigo) presenteia-nos com três espaços, o Restaurante Rabelo, o Bar Library e o Salão do Rio.

No primeiro tivemos a oportunidade de almoçar no terraço com ramadas de vinhas sobre a nossas cabeças e uma maravilhosa e calma vista para o Douro. Para quem prefere ficar dentro da sala do restaurante pode deliciar-se com as paredes preenchidos com pinturas alusivas ao Douro.

Mas com bom tempo e o cenário que temos à nossa frente seria até uma irresponsabilidade não ficarmos sentados no terraço. O almoço decorreu bastante melhor do que havia acontecido na nossa última visita, com pratos bem preparados e alguns detalhes técnicos de bom apuro, com destaque para a seleção de pães e bolas locais e um ótimo bacalhau.

The Library

No Library passamos um excelente fim de tarde a petiscar uns aperitivos e a degustar um bom vinho (o João, eu na altura tinha a Francisca na barriga!). Este bar tem um ambiente intimista de casa antiga onde a madeira é predominante. Confortável quanto baste, clássico e elegante como o restante hotel.

Nota alta para o simpático funcionário que nos acompanhou neste momento de ócio!

No salão do rio tivemos a oportunidade de tomar um pequeno almoço farto e com mimos por parte duma funcionária muito querida e o seu cuidado com o facto de eu  estar grávida. Mais uma nota alta para o staff! O salão do rio tem também vistas maravilhosas sobre as vinhas e o Douro!

Na piscina é também possível fazer refeições leves e tomar bebidas refrescantes ao longo de todo o dia.

Serviços
Podemos começar pela bonita e calma piscina mesmo em frente ao rio, seguindo-se todos os recantos do hotel que merecem pelo menos um passeio atento. Dentro do hotel, encontramos também o agradável Salão dos Ingleses, uma sala de jogos com bilhar, tv e lareira.

O Hotel oferece ainda um Court de Ténis e provas de vinhos, com loja de vinhos e produtos regionais. Possui ainda salas devidamente preparadas para conferências e diferentes eventos.

Para atividades extra hotel, temos a possibilidade de vivenciarmos momentos únicos ao longo do Vale do Douro, nomeadamente a bordo do PipaDouro (ver) ou na visita a muitas das Quintas do Douro, nomeadamente a Quinta do Bomfim (ver) que fica muito próxima, com o seu famoso restaurante Casa dos Ecos a cargo do Chefe Pedro Lemos que oferece uma experiência gastronómica imperdível!

Também muito próximo do hotel temos a Quinta da Roêda e a possibilidade de a visitar e ficar a conhecer a sua história e ainda saborear um farto piquenique num espaço bem intimista com uma vista deslumbrante sobre o Douro.

Atendimento
Infelizmente é do conhecimento geral que cada vez é mais difícil arranjar funcionários com formação em hotelaria/restauração, principalmente na região do Douro. No Vintage a nossa experiência decorreu sem nenhum tipo de problema no serviço (como por norma acontece infelizmente). O staff é jovem e simpático, e a forma como fomos recebidos em todos os departamentos do hotel foi calorosa e atenta.

Ponto bastante positivo para os funcionários que estiveram connosco no Library bar e no Salão do Rio.

Até breve Vintage House!

The Vintage House
Quartos a partir de 180€
R. António Manuel Saraiva, 5085-034 Pinhão
+351 254 730 230
reservations@vintagehousehotel.com

English Version

Fotos: Flavors & Senses

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Neolokal

Passaram-se vários anos desde que visitamos Istambul pela última vez (ver), desde aí muita coisa mudou na cidade e o Neolokal não foi excepção. O talento de Maksut Askar quebrou fronteiras, fez correr tinta na imprensa internacional, valeu-lhe um lugar de destaque entre as descobertas do 50Best e incluiu até uma rápida passagem por Lisboa para um jantar a 4 mãos com o Pedro Pena Bastos no extinto Ceia.

Com memórias bem presentes da sua cozinha e da forma como havia desdobrado e modernizado a tradição culinária da Anatólia, um regresso ao Neolokal era uma condição inequívoca numa nova passagem pela cidade turca.

E em boa hora o fizemos!

A sala do Neolokal continua de um encanto muito especial, mantendo a sua traça e carisma bem cosmopolita, podia estar em Londres ou Nova Iorque, podia! Mas é ali no bairro de Galata com uma vista estonteante sobre Sultanahmet que tudo faz sentido!

Chegando a carta, percebemos rapidamente que tudo evoluiu e que nenhum detalhe é deixado ao acaso, uma carta de boas vindas, o menu, uma explicação sobre a origem e construção de cada prato e um guia sobre as castas e os vinhos produzidos na Turquia – o Neolokal continua a apostar numa carta exclusivamente turca, tendo inclusivamente aberto recentemente um bar de vinhos, com destaque para os vinhos naturais e uma comida autêntica chamado – Foxy Local & Real.

O menu de degustação consiste numa partilha de pratos, dividido em várias secções de Mezze (vegetarianos, frios, quentes), pratos de peixe, carne e claro as sobremesas, ficando nas mãos do cliente a escolha do seu próprio menu, optando pelo número dos pratos e a escolha dos mesmos. Para nós a escolha foi simples, optamos por todos!

Pão de Sourdough com manteiga de cogumelos

Se no passado nos havia marcado muito pela positiva, podemos concluir que o pão continua a ser um ponto forte do restaurante, agora com ainda mais carácter e personalidade, fruto dos anos de vida da massa mãe, o difícil, mesmo, é não o manter ao nosso lado ao longo de toda a refeição.

Seguindo o pão, não tardaram na mesa os pratos, servindo os 3 pratos de cada secção em simultâneo, como em qualquer mesa mais tradicional.

Dolmade de couve e Siyez
Siyez é o grão mais antigo da Anatólia, e um dos primeiros a ser domesticado pelo homem, conhecido por cá como Einkorn, e usado neste prato como bulgur, que recheia o dolmade de couve. Junta-se-lhe melaço, folhas crocantes e puré de ervas e temos um prato vegetariano que facilmente nos deixa saudades.

Vegetais de raiz
Raiz de aipo, abóbora, batata, topinambur, marmelo, cenoura são cozinhados nos seus diferentes pontos em azeite segundo a técnica tradicional zeytinyağli. Posteriormente são servidos em diferentes texturas, e à temperatura ambiente. Um prato que evidenciou a qualidade do produto e o rigor técnico.

Topik, cebola, batata, grão de bico e tahini
Um meze inspirado na influência dos emigrantes arménios em Istambul, que resulta mais uma vez numa combinação única de sabores e texturas, onde o tahini, as ervas e o óleo das mesmas, eleva o prato a outra dimensão.

Que belo trio logo para a partida inicial!

Começamos a refeição com um orange wine natural, Chamlija Kehribar Narince 2018, feito 100% com uvas Narince. A cor vibrante faz-nos lembrar laranjada , o nariz leva-nos para aromas de pêssego, alperce , demonstra na boca um carácter fresco bastante surpreendente. Um vinho que embora laranja, siga mais para um lado quase próximo de um pet nat do que uma demonstração de taninos.

Su böreği
Su böreği costuma ser uma das minhas eleições para pequeno-almoço/almoço rápido à maneira turca. Uma espécie de lasanha de massa filo, recheada com salsa e queijo feta. Aqui foram obviamente mais longe, com a combinação de camarão, óleo de ervas, massas mais crocantes e massas mais “cozidas”. Excelente!

Anchovas Marinadas
As anchovas são provavelmente o peixe mais emblemático do Bósforo, sendo a sua conserva em vinagre um clássico de todo o mediterrâneo. Aqui ganham especial destaque pela inclusão do vinagre de figo, e pickle de feijão branco fresco. Combinação irrepreensível, cheia de sabor, com uma frescura e acidez que nos faz querer continuar a comer sem parar.

Truta Fumada
Uma salada kisir, de inspiração tradicional onde o bulgur é preparado com sumo de nabo e cenoura negra fermentado. Posteriormente acompanhada por uma irrepreensível truta fumada, com notas de pinho, pickles e uma leve maionese de ervas. Mais um conjunto fresco, repleto de texturas e sabores onde mais uma vez a acidez teve um papel fundamental na eficácia do prato.

A acompanhar esteve o Hasandede 2018 da Vinkara, um vinho de notas peculiares onde se destaca o louro, o marmelo e o limão que funcionou bastante bem com as entradas frias.

Kokoreç
A versão do neolokal de um clássico da comida de rua turca, aqui preparado apenas com o coração de cordeiro em vez de uma combinação de todas as entranhas. “Simples” e repleto de especiarias que relembram a magia da cozinha turca.

Içli Köfte
Uma espécie de pastel com a massa a ser preparada com bulgur e carne e o recheio feito com carne picada e frutos secos. Mais um take pela comida de rua que aqui ganha uma outra dimensão quando conjugado com a espuma de iogurte de limão e menta e o óleo de alho e salsa. Daquelas coisas que podemos facilmente comer todos os dias e ser sempre felizes!

Erişte com Polvo
Mais uma marca da rota da seda na cozinha turca, eriste é a versão turca da pasta italiana, aqui preparada num caldo de legumes e peixe, envolvida numa espécie de pesto de tomate seco, polvo e nozes. Um prato de puro conforto!

A acompanhar esteve um Pasaeli Sidalan 2017 da região de Kaz Daglari. Um vinho com personalidade, produzido de forma orgânica e respeitando as características da casta, foram as notas herbais e apimentadas que surpreenderam no conjunto com os pratos.

Papaz Yahni
Inspirado num estufado de peixe trazido pelos Arménios para a Turquia, aqui elevado pelo ponto irrepreensível do peixe (achigã) cozinhado com elevadas notas de especiarias e pelo molho onde se destacavam as notas de azeitona e do caldo rico de peixe. Delicado e delicioso!

Mom’s Meatballs
A cozinha das mães da Anatólia é aqui recriada com um kekab onde as almôndegas são grelhadas e acompanhadas pela tradicional salada “piyaz” aqui recriada num molho. Sabor, suculência e textura que com muito prazer comemos à mão já quase no final da refeição.

Sela de cordeiro
Um prato enorme para finalizar os principais. Cordeiro no ponto, repleto de notas da mistura de especiarias com que foi marinado, acompanhado por Mihlama, uma espécie de polenta mas com muito mais riqueza e sabor, e Uveyik um tipo de grão ancestral que aqui é de certa forma tratado como um risotto bem al dente.

Para as entradas quentes o vinho escolhido foi um Chamlija Papaskarasi 2016, mais uma casta que desconhecia e um vinho que se revelou na grande surpresa da noite, com grande elegância a fazer lembrar um pinot noir mais maduro mas de grande expressividade. Muito bom!

Baklava
Baklava é motivo por si só para visitar Istambul, massa crocante, mel, pistáchio e muita, muita técnica. A versão do Neolokal estava-me na memória desta a primeira visita, muito mais leve, mas igualmente delicada e saborosa. Servida com um creme de pistáchio, frutos secos caramelizados e gelado de amêndoa. Daqueles doces difíceis de resistir!

Bolo de Maçã
Mais uma homenagem à cozinha das mães  com um bolo de maçã cheio de nuances e técnica, com maçã e nozes, um crocante de bolo de cenoura, gelado de noz e um “merengue” sem claras , feito a partir da água de cozedura de uma raíz chamada çöven otu . Delicado, com todos os elementos a ligarem-se muito bem. Um doce de puro conforto.

Frigo
Dizem que nos cinemas da Turquia é normal comerem-se barras de gelados conhecidas por “Frigo”, aqui essa barra é levada a outra dimensão com notas de chá preto fumado, framboesas e diferentes texturas de pipocas, crocantes e em gelado. Um final feliz, depois de 15 momentos em que efetivamente parecia que estávamos no cinema a ver desfilar pratos e interpretações de sabores que nos são longínquos, mas que aqui ganharam uma contemporaneidade rara.

A harmonização das sobremesas fez-se com Suvla Tatli tatli karasakiz 2017  um delicado vinho de sobremesa que intriga pela sua dualidade entre aromas e sabores, se no nariz nos remetia para os frutos vermelhos mais clássicos na prova eram claramente as notas de marmelo que mais o marcavam.

Todo o serviço se desenrolou com grande profissionalismo e num bom casamento entre rigor técnico e descontração como pede o espaço e seu ambiente noctívago com destaque para o serviço de vinhos que aqui desempenha um papel essencial junto daqueles que como eu, pouco ou nada conhecem sobre o universo vínico da Turquia e das suas castas autóctones.

Considerações Finais
Na primeira vez que visitamos o Neolokal, o restaurante tinha praticamente acabado de abrir, e logo ali ficamos rendidos à cozinha de Maksut Askar, bom pão, empratamentos bonitos, muitas texturas e muito sabor com recurso a ingredientes muitas vezes completamente desconhecidos do nosso léxico. Ver a sua evolução ao longo dos anos e o bonito caminho traçado pela sua carreira tem sido um prazer enorme que culminou com uma certeza no final destes 15 pratos, ainda há muito que a Turquia e a cozinha da antiga Anatólia têm para dar à cozinha mais contemporânea. Dos ingredientes raros, às combinações de especiarias e jogos de texturas, todos temos um pouco a aprender e descobrir com o que se faz nesta cozinha e isso é motivo por si só para ser uma paragem obrigatória a cada visita à cidade.

Até breve!

Neolokal
Preços a partir de 50€ – (sem vinhos)
SALT Galata, Bankalar Caddesi Karaköy 34420 – İstambul
+90 212 244 00 16

Versão Portuguesa

Photos: Flavors & Senses

 

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Yeni Lokanta

A cozinha Turca é muito mais do que kebab, meze ou Lahmacun, como ficou bem patente na nossa última visita a Istambul, onde as combinações de ingredientes, especiarias e texturas nos deixou completamente rendido. Um mundo de novos sabores e descobertas quase sem limites, que tem servido o aparecimento de novos restaurantes e chefs dispostos a devolver à cozinha turca a importância de outros tempos.

Um desses restaurantes é o Yeni Lokanta  – como o nome indica, “novo restaurante” – aberto em 2013 pelo jovem talento Civan Er, que procurava afirmar o seu nome numa cozinha informal e de partilha que se inspira na tradição para desenhar a sua interpretação da nova cozinha anatoliana.

Cocktails de apresentação simples e sabores bem conseguidos

Chegados ao restaurantes, facilmente percebemos o sucesso social do restaurante entre locais e visitantes, a decoração simples e algo rústica, com o ambiente a meia luz, cria no espaço uma aura própria onde apetece estar e ficar.

Bem instalados e com cocktails escolhidos, optamos pelo menu de degustação para 2, uma interessante forma de dar a conhecer a sua cozinha de partilha.

Manti, iogurte antiochian
Como primeiro momento, um dos mais marcantes de toda a viagem (tanto que acabados por visitar outro restaurante do chef apenas por ele!), Mantis, o primo turco do ravioli, neste caso com recheio de carne, um soberbo molho de iogurte e óleos de pimenta e ervas. Uma bomba de sabores e sensações onde tudo se complementa – podia facilmente comer isto todas as semanas.

Tártaro de Köfte, batata, sumac e gema de ovo
Tártaro inspirado nas habituais almôndegas turcas, bem preparado e temperado. Por cima uma espécie de scottish egg crocante de batata com uma gema líquida no interior. Nota de realce ainda para o “molho”, uma espécie de melaço feito com sumac (especiaria turca cujo sabor ácido substitui facilmente o limão).

Muito bom também o pão de sourdough servido a acompanhar!

Beterraba, ginga, amêndoas e kaymak
Um prato vegetariano, onde se destacam as texturas, e a ligação com as especiarias e os óleos de ervas e sumac. Tudo bem ligado pelo kaymak (nata mais densa e gorda, normalmente utilizada com as sobremesas turcas). Um bom prato, mesmo para quem não morre de amores por beterraba, como é  o meu caso.

Öcce, fritos de ervas, sorvete de ginga
Ervas em vez da clássica courgette, para criar umas pequenas bolas crocantes com um sorvete (na realidade era um molho e não um sorvete de ginga). Fresco e com algumas nuances de sabor, no entanto esteve uns furos a baixo dos pratos provados anteriormente.

Queijo de Cabra, acelgas, mel com chili, avelã e tamarindo
Um grande prato! Queijo untuoso e rico, grelhado no ponto o que lhe conferia uma interessante capa crocante, acelgas com boa textura e a casar muito bem com as notas de fruto seco e o equilíbrio de sabores dos molhos.

Camarão e folhas de videira em tempura
Uma tempura bem turca, com as clássicas folhas de videira a envolver bem os camarões e fritos numa palme fina e crocante. A acompanhar, um fresco molho de iogurte, acelga e gengibre. Interessante, simples e bem conseguido!

Salsicha de Cordeironozes, feijão borlotti e pepino
A cozinha turca trata o cordeiro como poucas, e este prato é prova disso – uma bomba de sabor! Uma fantástica salsicha de cordeiro grelhada no ponto, um creme de feijão e nozes repleto de sabor e a contrastante frescura do pepino. Mais um aparentemente simples, mas delicioso prato, bem conseguido desde o sabor à combinação de texturas.

Polvo, iogurte e butarga
O Polvo turco nunca me agradou e este não foi excepção, é a diferença na qualidade do molusco face ao português e espanhol que me deixa sempre de pé atrás, especialmente no que diz respeito à textura. Posto isto a frescura e leveza do acompanhamento assim como a dimensão de sabor dada pela butarga, acabou por criar um bom complemento à menos interessante proteína.

Baked Alaska (versão turca)
Framboesas, merengue, clotted cream e amêndoa são os ingredientes para um bem conseguido e equilibrado baked alaska em versão turca.

Mahlep, caramelo salgado, avelã e abóbora
Que é como quem diz, Panna cotta turca de caramelo salgado, mahlep (uma semente muito utilizada em padaria na Turquia), avelã e molho de abóbora. Equilibrada no açúcar, com boa textura – sem os habituais excessos de gelatina – e excelente combinação de sabores. Uma boa surpresa.

Acabamos por acompanhar a refeição sempre com cocktails, mas não falta uma ampla carta de vinhos turcos com muito para descobrir.

Considerações Finais
A cozinha turca e as tradições de toda a Anatólia estão numa fase de grande mutação, num país onde as tradições ainda são o que eram, são cada vez mais os jovens chefs como Civan Er que escrevem o futuro culinário do país, olhando para todo o seu historial mas também abrindo portas ao mundo, às técnicas e empratamentos mais modernos.
Foi exactamente isso que encontramos no Yeni Lokanta , pratos repletos de sabores fortes, alguns deles desconhecidos, grande combinação de texturas e muita frescura, tudo isto num ambiente moderno e cosmopolita que cativa tanto a clientela local como os locais. Quanto a nós, será certamente um espaço a que voltaremos,  até porque meses depois desta visita continua quase impossível esquecer os Mantis com que começamos o jantar.

Yeni Lokanta
Preços a partir de 40€ – (sem vinhos)
Tomtom, Kumbaracı Ykş. No:66, 34433 Beyoğlu – Istambul
+90 212 292 25 50

Versão Portuguesa

Photos: Flavors & Senses

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Lai’Tcha

Para quem se interessa pelos prazeres da mesa, Adeline Grattard dispensa apresentações, muito por culpa do seu restaurante gastronómico Yam’Tcha e da sua presença no bem sucedido “Chef’s Table” da Netflix. Mas façamos um pequeno resumo, formada pela célebre escola parisiense Ferrandi, foi ao lado de Pascal Barbot no L’Astrance que apurou a sua técnica, e onde conheceu o seu marido Chi Wah Chan, especialista em chás. Juntos embarcaram na aventura de viajar até Hong Kong, terra natal de Chi Wah Chan, onde Adeline acabou por descobrir um admirável mundo novo, um mudo de novos sabores, técnicas e condimentos, que foi aprendendo ao lado dos mais prestigiados chefs da região.

Regressados a Paris, decidem abrir o seu próprio restaurante, Yam’Tcha, onde o chá disputa com o vinho o lugar de destaque ao lado dos pratos de assinatura, que rapidamente foi reconhecido com uma estrela pelo guia Michelin e se tornou numa das mais interessantes mesas parisienses.

Entre os vários projectos, o último foi este Lai’Tcha – inspirado na típica bebida de rua que combina chá preto com leite condensado – um café nada parisiense e totalmente embebido do espírito de Hong Kong, com “pratos rápidos” de inspiração asiática, comida para levar, cafés e os óbvios chás criteriosamente escolhidos por Chi Wah Chan.

O seu nome bastaria para que a primeira visita fosse justificável, no entanto o que nos levou até a esta porta na zona de Les Halles foi um motivo ainda mais especial. Na impossibilidade de reservar e visitar o restaurante gastronómico durante uma curta estadia em Paris, e sabendo que às terças à noite o mítico casal ocupa a cozinha do Lai’Tcha, seguimos para uma degustação única de Adeline Grattard e as suas combinações mais descontraídas.

Spring Roll de Caranguejo Real e Vieiras com especiarias
O início da degustação diz-nos logo que vamos ter sorte com o jantar… Começando pelo Spring Roll, obviamente feito na casa, com o caranguejo ainda suculento e cheio de sabor, bem acompanhado por uma espécie de molho barbecue, versão chinesa e caseira. Vieiras cozinhadas com especiarias, legumes e a frescura dos coentros para contrastar.  Ótimo!

Beringela, marisco e arroz
Seguiu-se um confortável prato de beringela, estufada com mariscos, legumes e temperos asiáticos, servida sobre arroz. Um prato leve e ao mesmo tempo com várias dimensões de sabor e texturas. Não sendo eu propriamente fã de beringela, podia ter comido duas ou três taças, o que já diz algo sobre o prato…

Polpette, China vs Itália
Uma adaptação das célebres almôndegas italianas, ao receituário chinês, que rapidamente nos transporta para o recheio de dim sum, repletas de sabor e bem equilibradas pelo molho à base de fuyu e cogumelos. A fotografia infelizmente não faz jus ao sabor do prato!

Pomelo, Maracujá e Shiso e Mocchi
A frescura que qualquer final pede, com uma simples mas bem executada salada de pomelo com maracujá e shiso. Mochi bem preparados, com a massa delicada e suave como deve ser! Belo final!

O serviço foi simples e discreto, num ambiente calmo  e super sereno – parece que há muita gente que ainda não sabe sobre os jantares da chef no restaurante.. O que para nós acabou por ser ótimo!

Considerações Finais
Poderia ser um restaurante ou um café de bairro, mas a comida, o conceito e, claro, as pessoas por trás dele, fazem do Lai’Tcha uma experiência distinta! Seja pela oferta  quase exclusiva de pratos e bebidas de Hong Kong, seja pela qualidade das matérias primas apresentadas – Adeline Grattard orgulha-se de manter os mesmos fornecedores e produtores do seu restaurante gastronómico – a visita vale mais que a pena, como já acontecia no pequeno Boutique Yam’Tcha. Os menus de terça-feira com assinatura da chef são a cereja no topo do bolo, para uma das melhores experiências de influência chinesa da cidade Luz. Ahhh e diz-se que por lá o Brunch é também um dos melhoras da cidade…

A repetir!

Lai’Tcha
Preços a partir de 33€ – (sem vinhos)
7 rue du Jour – Paris
+33 1 40 26 05 05

English Version

Fotos: Flavors & Senses

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